Câmeras de monitoramento do Aeroporto Internacional de Guarulhos ajudaram a desmascarar o esquema que envolvia trocas de etiquetas de bagagens para o envio de cocaína ao exterior. As imagens, exibidas em matéria do Fantástico, da TV Globo, deste domingo, 23, revelam que a operação criminosa funcionava com falso check-in feito por uma funcionária da Gol, e ação em área restrita por trabalhadores de empresas terceirizadas.
Na última terça-feira, 18, a Polícia Federal deflagrou a segunda etapa da Operação Colateral e prendeu 17 pessoas. Entre elas, alguns chefões do esquema de tráfico de drogas. Eles são acusados de transportar 126 quilos de cocaína do Brasil para a Europa ilegalmente, desde o ano passado.
Em março, o esquema do grupo provocou a prisão injusta de duas brasileiras, que tiveram as identificações de suas malas trocadas e colocadas em bagagens contendo cocaína. Mesmo inocentes, elas ficaram detidas na Alemanha por 38 dias.
A reportagem, no entanto, mostrou que esta não foi a primeira vez que a quadrilha coloca o crime em prática. A operação de despachar drogas em malas com a participação de funcionários do aeroporto foi realizada em outubro de 2022.
As imagens mostram um homem com uma mala (com 43 quilos de cocaína) se encontrando com Tamiris Zacharias, 31 anos, funcionária da Gol Linhas Aéreas. Os dois vão a um dos guichês de check-in da empresa. Tamiris, que também faz parte da quadrilha, finge fazer os procedimentos necessários, coloca a mala na esteira e despacha a bagagem com as drogas. A mala seguiu viagem para Lisboa, onde foi apreendida. As autoridades portuguesas localizaram a droga, mas ninguém apareceu para buscar a carga.
A investigação identificou que a mulher não emitiu nenhum comprovante para o dono da bagagem. Este homem, que entrega a mala com drogas para Tamiris, ainda não foi identificado. O mentor do plano, conforme mostrado na reportagem, seria um homem identificado como Fernando Reis, também conhecido pelo apelido de Brutus.
Tamiris foi vista também pelas imagens em contato com outra mulher, Carolina Pennachiotti, de 35 anos, que foi presa na operação da última terça. Carolina também trabalhava no aeroporto e era contratada por uma empresa para orientar os passageiros nas filas. Em áudios gravados para a mãe, interceptados pela polícia, ela faz declarações de também estar envolvida no esquema.
A segunda fase do crime, conforme apontou as investigações, envolve a área restrita do aeroporto, especificamente o local para onde as malas vão após o check-in. Neste espaço, as imagens flagraram funcionários realizando a retirada de etiquetas de malas de outros passageiros e colocando, de forma escondida, na bagagem com as drogas. A ação dos criminosos é feita de forma sutil, de modo a driblar a segurança.
Para esta etapa da operação, a quadrilha contou com a ajuda dos funcionários Deivid Souza Lima e Pedro Venâncio. Os dois foram flagrados realizando a troca de etiquetas em março deste ano, poucos dias antes do mesmo golpe ser aplicado nas duas brasileiras.
Nesta ação feita por Lima e Venâncio, a bagagem com 43 quilos de cocaína foi para Paris, e também foram barradas pelas autoridades locais. Dois homens tentaram subornar o funcionário do aeroporto francês para poder retirar a mala, mas acabaram sendo presos.
De acordo com a reportagem, a defesa de Carolina disse que a prisão é “violação das normas legais” e que ela vai demonstrar a improcedência das acusações. A WFS Orbital, empresa terceirizada que contratou Carolina, disse que colabora com as investigações e oferece treinamento aos seus colaboradores.
Tamiris, da Gol, foi demitida da empresa e confessou participação no esquema. A Gol informou que se coloca à disposição das autoridades desde abril deste ano, quando soube das investigações, segundo a reportagem. Os advogados de Deivid e Pedro Venâncio preferiram não se manifestar, e a defesa de Brutus afirma que ele é inocente.
Prisão de chefões
Na última terça-feira, 18, a Polícia Federal deflagrou a segunda etapa da Operação Colateral, e prendeu 17 pessoas ao todo. Entre elas, alguns chefões do esquema de tráfico de drogas, como ‘Vovô’, ‘Brutus’, ‘Charles’, ‘Man’, ‘Bahia’ e Carolina, que ocupam cargos altos na hierarquia da quadrilha, segundo as investigações.
Alguns eram responsáveis pela logística do tráfico, outros são apontados como ‘mentores intelectuais do crime’ e há até quem é classificado, pela própria quadrilha, como ‘chefão do esquema’.
Ao longo das investigações, a PF descobriu detalhes nos métodos de ação do grupo. Um deles é a utilização da senha ‘futebol’ para tratar da remessa de drogas para o exterior. Os achados se deram a partir da análise de diálogos entre os investigados, encontrados em celulares apreendidos na primeira etapa ostensiva da investigação.
A PF destaca que o grupo sob suspeita está ligado não só à remessa de 40 quilos de cocaína que culminou na prisão das brasileiras na Alemanha. A investigação mostra que o grupo foi responsável também pelo tráfico de 43 quilos de cocaína para Lisboa, no dia 23 de outubro de 2022, além de outra partida de 43 quilos de cocaína para Paris, no dia 3 de março último, somando nessas três operações o envio de 126 quilos da droga para a Europa, sempre seguindo a mesma estratégia – troca de etiquetas de bagagens no aeroporto de Guarulhos.
