Guarulhos Hoje

Trem da Cantareira: o primeiro de Guarulhos

“Não posso ficar nem mais um minuto com você

Sinto muito amor, mas não pode ser

Moro em Jaçanã, se eu perder esse trem

Que sai agora às 11 horas, só amanhã de manhã”

E foi essa canção de Adoniran Barbosa que eternizou a primeira linha férrea de Guarulhos. O Trem da Cantareira”, da Estrada de Ferro Cantareira (montada pela canadense Tramway), iniciou suas operações no fim do século XIX e permaneceu ativo até 1965, quando foi suprimido pelo transporte rodoviário.

O ramal guarulhense contava com as estações Vila Galvão, Torres Tibagy, Vila Augusta, Gopoúva, Centro e Base Aérea de São Paulo (Basp, em Cumbica) e foi inaugurado em 4 de fevereiro de 1915.

No início, a Estrada de Ferro Cantareira foi construída em 1893 pela Comissão de Saneamento do Estado de São Paulo com o objetivo de transportar materiais que seriam utilizados na construção da adutora, que traria água do reservatório da Cantareira para a cidade de São Paulo. No entanto, no ano seguinte, começou, também, a transportar passageiros, sendo, inicialmente viagens recreativas.

O trecho inicial partia da Estação Pari da São Paulo Railway (SPR), no Pari, e seguia em direção Norte até o sopé da Serra da Cantareira, pouco além do que é hoje o bairro do Tremembé, zona norte de São Paulo.

A expansão se deu anos depois iniciando com o Ramal da Pedra Branca, partindo da Estação Invernada para atender a pedreira Pedra Branca. Depois vieram os ramais até voltar a Linha Tronco, e o Ramal do Horto, pis passava em frente ao Horto Florestal. O próximo foi o Ramal Guapira, que partia da Linha Tronco na Estação Areal e chegava até o Asilo dos Inválidos, no Jaçanã. Com os prolongamentos, nascia, assim, em 1915 o Ramal Guarulhos.

Na década de 1940 o trem atingiu seu ápice chegando a transportar quatro milhões de pessoas. O alto fluxo de passageiros foi, inclusive, um dos motivos que levou o Ministério da Guerra a escolher Guarulhos para a construção da Base Aérea de São Paulo, em Cumbica. Isso porquê, através dos trilhos era possível trazer o material necessário para a obra, principalmente pedras das pedreiras da Serra da Cantareira.

No fim da década de 1950, a frota do Trem da Cantareira era composta de seis locomotivas diesel e trinta e dois carros de passageiros retirados do trem subúrbio da Sorocabana. No entanto, em 1964 teve início o desmonte da linha. O principal motivo foi a queda no número de passageiros que, em seus dias finais, chegou a transportar duas mil pessoas. Sem passageiros, manter as despesas de operação se tornou inviável.

O fim chegou em 31 de maio de 1965 com a última viagem entre Tucuruvi e Guarulhos.

Ramal possuía 30 estações

O Trem da Cantareira contava com 30 estações situadas na linha principal e nos ramais do Horto e de Guarulhos.

Na linha tronco principal estavam as estações Mercado, Parada Zero (São Caetano), Tamanduateí-Cantareira, Areal, Santana, Quartel, Santa Terezinha (Chora Menino), Mandaqui, Invernada, Parada Sete, Tremembé-Cantareira, Parada Santa e Cantareira.

Já o Ramal do Horto estavam as estações Nova Parada Sete, Horto Florestal, Pedra Branca, Parque Modelo e Parada Pinto.

No Ramal de Guarulhos estavam 12 estações:

Carandiru: inaugurada em 1927, a estação era a primeira do Ramal de Guarulhos e funcionou até 1965. Em 1950, inclusive, uma locomotiva a vapor derrubou fagulhas de fumaça sobre o telhado da estação, destruindo por inteiro o telhado. Sua demolição ocorreu no início dos anos 1980 com a construção da avenida Luiz Dumont Villares;

Vila Paulicéia: datada de 1922, a parada funcionou até 1965 quando foi desativada junto com o ramal. Nos anos seguintes, assim como a maioria das estações, foi demolida;

Parada Ingleza: de mesmo nome que a atual estação da Linha 1-Azul do Metrô, a parada foi inaugurada em 1927 e operou até 1965 quando foi demolida. Um dado curioso é que, em 1962, uma caminhonete roubada foi deixada sobre os trilhos da estação e acabou sendo atingida por um trem, provocando um acidente;

Tucuruvi: atual terminal da Linha 1 do Metrô, a estação Tucuruvi do Tramway nada se parece com a atual integrada ao shopping de mesmo nome. Inaugurada em 1º de dezembro de 1913, a parada permaneceu em pé até os últimos dias do trenzinho, quando foi demolida posteriormente;

Vila Mazzei: operou entre 1921 e 1965 e recebeu esse nome justamente porque foi construída por Manuel Mazzei e doada ao Estado posteriormente. Hoje, encontra-se demolida;

Jaçanã: a parada imortalizada por Adoniran Barbosa foi construída em 1910 e operou até 1965. Uma curiosidade sobre a parada é que o último trem a estacionar por ali partia às 20h30 — e não 23h como diz a letra do clássico samba. Porém, mesmo recebendo essa homenagem, acabou sendo demolida em 1966;

Vila Galvão: é a primeira estação do ramal a estar situada propriamente em Guarulhos. Sua construção data de 1915 e operou comercialmente por exatos 50 anos, quando foi desativada em 1965. Hoje, encontra-se demolida;

Torres Tibagy: operou entre 1931 e 1965 no município de Guarulhos. Foi desativada e demolida junto com as outras estações. Ficava localizada onde hoje há a parada Júlio Prestes do Corredor Metropolitano Guarulhos–São Paulo;

Gopoúva: terceira estação do ramal situada em Guarulhos, Gopoúva foi construída em 1922 e foi desativada em 1965 junto com o ramal, posteriormente foi demolida. Ficava localizada onde hoje está a parada Emílio Ribas do Corredor Metropolitano Guarulhos–São Paulo;

Vila Augusta: alguns afirmam que sua inauguração foi em 24 de dezembro de 1915, outros dizem que já foi em 1916. Sua serventia era basicamente para os trabalhadores dos arredores e da Indústria Fracalanza — situada próximo à estação. Mesmo desativada em 1965, sua demolição foi concluída apenas em 2008;

Guarulhos: a principal estação da cidade era a penúltima do ramal e era o terminal para os trens de passageiros. Foi inaugurada em 1915 e repassada para a Estrada de Ferro Sorocabana em 1941. Sua desativação ocorreu em 1965 e, três anos mais tarde, foi demolida. Hoje, uma réplica do prédio no mesmo local serve de abrigo para a Guarda Civil Metropolitana,

Cumbica: a última estação da linha servia apenas para transportar militares rumo à Base Aérea de Cumbica. Sua desativação se deu em 1965 e, hoje em dia, abriga a lavanderia da Base Aérea.

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