Cinco anos após a morte de 14 crianças no HMC, mãe diz que ‘nada aconteceu’

- PUBLICIDADE -

A dona de casa Francisca Julia da Silva, de 42 anos, tem um semblante de sofrimento. O HOJE a encontrou em um casebre construído numa comunidade carente da região do Picanço onde mora com três filhos. Mas a família, que sobrevive da ajuda de parentes e amigos está incompleta desde o dia 23 de abril de 2011. Neste dia, que marcou para a sempre a vida de Francisca, morreu a filha dela, Julia Victória da Silva, de um ano e três meses.

A pequena Julia estava internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal do Hospital Municipal da Criança (HMC) e entrou na estatística dos 14 bebês que morreram naquele hospital entre os meses de abril e maio. Cinco anos depois da tragédia que abalou Guarulhos, a mulher ainda se emociona ao falar da filha: “durante todo esse tempo, nada aconteceu”.
Desde aquele dia 23, Francisca ainda espera por justiça e reclama do fato de não ter tido nenhuma ajuda, principalmente do poder público, que pudesse aliviar a sua dor. “Estou numa situação muito difícil. O pior é que eu não sei ler nem escrever, por isso dependo dos outros. Após a morte da minha filha, não tive nenhuma ajuda por parte da prefeitura”, lamentou.

Francisca relatou que a partir do nascimento da filha percebeu que alguma coisa estava errada. “Ela tinha a pele muito branca e, quando eu a levei ao HMC, os médicos davam sulfato ferroso. Mas ela foi piorando e, quando me dei conta, já era tarde demais”, lamentou.
A morte dos bebês no HMC foi o tema principal do debate entre os candidatos a prefeito de Guarulhos, Eli Corrêa (DEM) e Guti (PSB), realizado no início desta semana pela Record News. Isso porque o candidato Guti, que era vereador na época das mortes, se negou a assinar na Câmara um pedido de investigação, por meio de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI). “Você foi contra e isso choca”, assim o democrata questionou o seu adversário (ver matéria abaixo).

A mãe de Julia, que convive com a saudade dia a dia, não demonstrou esperança de se fazer justiça na morte da filha, e agora só pensa em criar os outros três filhos. A Prefeitura de Guarulhos foi questionada pelo HOJE sobre a denúncia de Francisca, mas até a conclusão desta edição, não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Guti foi contra a investigação, e maioria da Câmara virou as costas para as mães

Depois das mortes dos 14 bebês no Hospital Municipal da Criança (HMC), um grupo de vereadores da cidade se mobilizou para criar uma comissão que pudesse investigar o que de fato aconteceu na UTI Neonatal do hospital. Na época, um pedido de investigação foi protocolado e seriam necessárias 11 assinaturas para a instalação da Comissão Especial de Inquérito (CEI).

“Agora, vai me causar profunda estranheza e mais ainda profundo pesar se esta Casa se esquivar da sua maior responsabilidade, porque mais que legislar, temos que fiscalizar. Precisamos entender o que aconteceu [na UTI]”, esbravejou na tribuna o vereador Dr. José Mário, então no PTN.

Mas o pedido foi arquivado. Apenas oito vereadores assinaram o requerimento e 26 se recusaram a investigar as mortes dos 14 bebês, entre eles Guti, hoje candidato a prefeito pelo PSB; na época, ele era vereador pelo PMDB e integrava a base de sustentação do prefeito Sebastião Almeida (PT).
No debate político na TV, Guti esclareceu que a maioria dos vereadores entendeu que “seria retrocesso” abrir uma CEI, pois já existia uma investigação do Ministério Público Estadual (MPE). “Nesse caso o MPE já estava atuando, então seria um retrocesso [instaurar a investigação]. Como já estava no caso [a Promotoria}, optamos por deixar o MPE trabalhar”, assim o candidato peessebista tentou justificar sua posição diante da morte dos 14 bebês.

Reportagem: Leticia Lopes
Foto: Ivanildo Porto

- PUBLICIDADE -