Médicos de Guarulhos divulgam carta aberta ao prefeito e ao secretário de saúde em resposta as ações de fiscalização


O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), divulgou nesta terça-feira (7), uma carta aberta de repúdio para o prefeito Guti (PSB), e o secretário de saúde, Roberto Lago, condenando as ações dos dois devido a supostas condutas que teriam intimidado funcionários durante as fiscalizações realizadas em fevereiro no Pronto Atendimento Maria Dirce e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA).

Segundo Eder Gatti, presidente do Simesp, o prefeito está querendo fugir do foco do problema de saúde na cidade, cujo maior responsável é tanto o gestor municipal atual, quanto o prefeito anterior, Sebastião Almeida. “Quando eles acusam os médicos, estão fugindo da sua própria responsabilidade e o Simesp não admite que os médicos e demais profissionais sejam usados dessa forma”, finaliza.

Confira a carta aberta na íntegra dos médicos do município de Guarulhos ao prefeito Guti e ao secretário de Saúde Roberto Lago:

Senhores prefeito e secretário,

No dia 10 de fevereiro, nós, médicos de Guarulhos, ficamos estarrecidos com a exposição desnecessária, gratuita e midiática em ações de fiscalização ocorridas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) São João e no Pronto Atendimento (PA) Maria Dirce. Ações essas que foram divulgadas nas redes sociais.

O que se viu foi uma total falta de respeito aos funcionários dos serviços, com difamação da reputação de médicos em uma atitude desrespeitosa. Nossos colegas e os usuários da internet puderam assistir às cenas de opressão, constrangimento e consternação dos presentes. Mesmo se esse fato não fosse transmitido em redes sociais, já seria suficientemente grave para nos causar repúdio.

Após a divulgação dos vídeos no Facebook e no Youtube, ocorreu uma verdadeira campanha de desvalorização dos profissionais envolvidos, que foram expostos e se sentiram constrangidos pelo efeito catastrófico da publicação que incitou o ódio da população contra os profissionais, com comentários jocosos e desrespeitosos. Houve a generalização de toda uma categoria profissional. Mesmo trabalhando sem receber os salários, em condições precárias sem equipe de limpeza e de segurança, com falta de materiais e de insumos básicos, somos constantemente insultados.

Nós, médicos, trilhamos um duro caminho para atingir o objetivo de atender nossos pacientes da melhor forma possível, mas são necessárias condições mínimas para que isso ocorra. Somos cobrados pela sociedade por resultados imediatos, mas não temos as ferramentas necessárias para tal. Atendemos uma demanda infinitamente superior à ideal em todos os níveis de atenção e isso certamente compromete a qualidade da prestação de serviços. Muitas vezes somos cobrados por produtividade em detrimento à qualidade de atendimento, movidos pelas diretrizes e repasses financeiros entre as diferentes esferas de governo.

Nos posicionamos terminantemente contrários à exposição da imagem de qualquer profissional médico em seu exercício profissional, bem como a divulgação de seus nomes em qualquer tipo de mídia por parte da prefeitura. Esperamos que situações semelhantes não sejam reincidentes, e desejamos, assim como o escárnio foi público, que a retratação também seja.

Espera-se do senhor secretário de Saúde que procure se empenhar em melhorar os padrões dos serviços médicos e em assumir sua responsabilidade em relação à saúde pública, à educação sanitária e à legislação referente à saúde. Também se espera que seja solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração digna e justa, bem como por condições de trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da medicina e seu aprimoramento técnico-científico.

Contamos com a colaboração de vossas senhorias para mantermos nosso trabalho baseado nos preceitos éticos, considerando as necessidades de nossa população em primeiro lugar. Acreditamos em uma gestão que respeita as características singulares de cada território do nosso populoso município. Também esperamos uma gestão que seja baseada no diálogo com os profissionais da rede, cujas considerações e vivências não podem e não devem ser ignoradas.

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