São Miguel das Missões: História e isolamento

Foto: Reprodução / Prefeitura de São Miguel das Missões
- PUBLICIDADE -

Desde criança, as ruínas jesuíticas de São Miguel das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul, habitavam meus pensamentos. Imponente, com grandes pedras alaranjadas e de aparência forte, a construção era atração de comerciais de TV, surgia nos comentários dos amigos que faziam viagens com a escola e era, por alguns anos, cenário onde artistas se apresentavam, entre eles o tenor espanhol José Carreras.

A cerca de 500 quilômetros de Porto Alegre, onde eu moro, as Missões sempre foram um destino deixado para trás por causa da distância. Porém, com a chegada da pandemia e a exigência do isolamento, surgiu a oportunidade de olhar para dentro do Rio Grande do Sul e, finalmente, conhecer de perto a região onde ficavam as missões jesuíticas.

Em sete dias intensos de viagem, circulei por 12 municípios do noroeste gaúcho. Por caminhos de estradas asfaltadas ou de terra vermelha, experiências únicas mesclam religiosidade, cultura e gastronomia, além de cenários de livros de história e muita gente simpática. Entre as paisagens estão as famosas ruínas do período em que padres jesuítas viajavam para catequizar indígenas, a maioria da etnia guarani. Viajar pela região das Missões nos ajuda a entender um pouco sobre as origens do Brasil e da América Latina. É uma região de patrimônio cultural e humano.

No roteiro, Santo Ângelo e São Miguel das Missões são pontos de partida. A primeira cidade reúne um belíssimo complexo arquitetônico no centro histórico, com destaque para a Catedral Angelopolitana, e permite encontros com o passado por meio de visitas a aldeias indígenas e museus.

São Miguel das Missões guarda as mais importantes edificações da época dos jesuítas: o sítio arqueológico que, desde 1983, é Patrimônio Mundial, Cultural e Natural pela Unesco. A grande obra ainda emana energia do passado e tem o maior acervo arqueológico do período jesuítico-guarani.

Cruz missioneira

Logo na entrada do parque, avista-se a antiga igreja, uma grande construção com cor de argila. O templo começou a ser construído em 1735 e levou dez anos para ser finalizado. Ao chegar perto, percebe-se sua grandeza e a quantidade de detalhes na arquitetura. Em um dos pontos, se você olhar para cima, verá que a junção das paredes e do teto forma uma cruz missioneira.

A alguns metros da ruína está o museu e a famosa cruz missioneira. Os guias que conduzem a visita indicam que vale a pena colocar as mãos nela e fazer um pedido, que geralmente se realiza (eu garanti o meu!). No museu há diversas obras sacras, incluindo sinos e esculturas.

Além da visita diurna, o sítio arqueológico mantém o espetáculo Som e Luz à noite. A apresentação dura cerca de 50 minutos e é narrada por artistas como Fernanda Montenegro, Juca de Oliveira e Lima Duarte.

Ao todo, são quatro sítios arqueológicos para visitar na região brasileira das Missões, cada um deles com características próprias. Também há parques em outras cidades, como Entre-Ijuís, São Nicolau e São Luiz Gonzaga.

Como chegar

De carro: A viagem de Porto Alegre a Santo Ângelo leva cerca de seis horas (são 440 km).

De ônibus: A empresa Ouro e Prata tem ônibus regulares para diferentes municípios da região das Missões, que saem da Rodoviária de Porto Alegre.

De avião: Há voos que ligam Porto Alegre a Santo Ângelo pela Azul. A viagem dura 1h20.

Sítios arqueológicos

Antes de ir, confira se os sítios estão abertos. Eles costumam fechar para manutenção várias vezes por ano, sem aviso prévio.

SÃO JOÃO BATISTA: A menos de 50 km de São Miguel das Missões, em Entre-Ijuís, foi fundado em 1690 e abrigou a primeira fundição de ferro da América do Sul. Informações: (55) 3381-1399. Gratuito.

SÃO NICOLAU: Fica na praça principal e, por isso, está sempre aberto. Amplo, cercado por árvores, preserva ruínas como a de um cabildo, lugar onde funcionava a sede administrativa da redução, e os restos de uma igreja, que ainda tem piso original. No fim do dia, o pôr do sol amplia o alaranjado das obras, em uma cena quase poética. Quem atravessa a rua em frente à praça encontra uma adega jesuítica cavada no chão. Ali supostamente eram guardados alimentos e bebidas. Entrada gratuita.

SÃO LOURENÇO MÁRTIR: Localizado em São Luiz Gonzaga, preserva partes de uma igreja, uma adega, uma casa que pertenceu aos padres jesuítas e também (acredite) latrinas. Repleto de árvores entrelaçadas, chama a atenção pela quantidade de ovelhas pretas que vivem no local. Há mais de 20 anos os bichinhos estão ali. Informações: (55) 3381-1399. A entrada é gratuita.

SÃO MIGUEL ARCANJO: Fica em São Miguel das Missões e tem as ruínas mais importantes e intactas da região. O templo começou a ser construído em 1735 e levou dez anos para ser finalizado. Junto às ruínas, há um museu. Informações: (55) 3381-1294. Os ingressos custam R$ 14 e R$ 7 (meia-entrada). O espetáculo Som e Luz sai por R$ 25.

- PUBLICIDADE -