Na
esteira de quem tenta utilizar a tecnologia para resolver seus problemas de
insônia, um grande mercado tem se estabelecido na pandemia para ajudar as
pessoas a dormir melhor – ou pelo menos tentar. São os apps e playlists que
abordam meditação, histórias, guias de relaxamento e até sons de chuva, para
aqueles que não resistem a uma noite de barulhinho na janela.
Esses métodos, espalhados por diversas plataformas, ganharam o público: segundo
dados do Spotify, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, cerca de 30 milhões
de playlists já foram criadas com o tema sono em todo o mundo. No último ano, o
aumento na criação e na procura desse recurso foi de 21%. Não é nada tão
surpreendente, dado o momento que estamos vivendo.
Essa é a opinião de Emanueli Kuhnen, que passou a usar um app de meditação
depois da recomendação de uma professora. Para a estudante, o sono ficou mais
profundo depois que as noites começaram a ser embaladas pela orientação do app.
“Baixei para ver como era e testei algumas meditações. Agora, só durmo
ouvindo o app. Sinto que agora durmo muito mais pesado, não acordo nenhuma vez
e consigo descansar direto até a manhã seguinte”, conta.
No Brasil, o app de meditação Zen, criado por Christian Wolthers, encontrou a
fórmula para atrair usuários como Emanueli A plataforma, que também está
presente fora do País, soma mais de 4,2 milhões de downloads, cerca de 30%
deles são usuários em busca de um sono melhor. No conteúdo, 35% das meditações
são usadas para driblar a insônia.
“Globalmente falando, aconteceu uma mudança muito grande de comportamento
de busca nos apps. Muitas pessoas começaram a procurar recursos tecnológicos
para auxiliar na redução da ansiedade e do estresse e na melhora do sono. No
primeiro pico da pandemia, no ano passado, a gente teve um aumento de 260% nos
downloads”, afirma Wolthers.
Ajuda não é milagre
A SleepUp também segue a proposta de tentar ajudar a melhorar a rotina do sono.
O serviço criado por Renata Bonaldi oferece uma plataforma focada em sono, que
tem desde meditações a serviços de telemedicina, com especialistas na área.
Nascida um pouco antes da pandemia, a empresa viu a procura pelo app aumentar
bastante nos últimos meses.
“A gente percebe um interesse muito grande das pessoas em tentar entender
e tratar as causas da insônia e tem muita tecnologia que vem pra ajudar. As
pessoas estão buscando soluções digitais e querem uma alternativa mais
acessível para tratar a insônia que não sejam remédios”, conta Renata.
Os métodos podem ser utilizados como uma ajuda para começar a dormir, afirma a
pesquisadora do Instituto do Sono, Monica Andersen, mas é preciso saber como
utilizá-los a seu favor. Segundo ela, deve-se ficar atento se o app não demanda
olhar muito tempo para o celular ou se ele não tira a atenção da preparação
para dormir, que inclui pouca ou nenhuma luz.
“Tudo o que faz bem deve ser incorporado desde que seja de uma forma
sensata, com outras mudanças na rotina. Os apps ajudam muito, mas é preciso
tomar cuidado para que a pessoa não tenha que levar o celular para a cama e
isso atrapalhe. Se o usuário fica mais de uma hora olhando redes sociais, e vai
imediatamente para o app tentar relaxar, isso não vai funcionar”, explica
Monica.
O que vale é tentar encontrar uma rotina com aspectos da chamada higiene do
sono, que regula horários, alimentação e o uso de aparelhos antes de dormir e,
claro, conhecer como o seu corpo funciona a partir desses hábitos. Assim, fica
mais fácil estabelecer uma rotina e acostumar o ciclo biológico do organismo de
que a hora de dormir é sagrada.