Outubro Rosa chama atenção para câncer de mama em cadelas e gatas


Em cadelas com propensão ao desenvolvimento de neoplasias, de todos os tumores possíveis, a probabilidade da ocorrência do câncer de mama fica entre 45% e 50%. É o que afirma o médico-veterinário Andrigo Barboza de Nardi, autor do livro Quimioterapia Antineoplásica em Cães e Gatos (2008) e coautor de outros dois, Oncologia em Cães e Gatos (2016) e Princípios e Técnicas de Cirurgias Reconstrutivas da Pele em Cães e Gatos (2016). 

Com 20 anos de experiência na área e mais de 40 estudos de oncologia publicados em periódicos científicos, toda a sua especialização, do mestrado à pós-doutorado, foi em cirurgia veterinária, com ênfase em oncologia.

 Atualmente, é professor de cirurgia, no Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Jaboticabal). Ele explica que a ocorrência de câncer de mama nas gatas é diferente, sendo o terceiro de maior prevalência, atrás de linfomas e carcinomas de células escamosas (câncer de pele). “A probabilidade da incidência do câncer de mama em gatas com propensão à neoplasia fica entre 20% e 30%”, diz. 

Outubro Rosa Pet 

Nem por isso os tutores podem descuidar de suas fêmeas de estimação. A prevenção de tumores mamários em cadelas e gatas ainda é a melhor opção. A recomendação é que façam o exame frequente de palpação ao longo das duas cadeias mamárias. “O diagnóstico e o tratamento precoce da lesão ainda é a melhor maneira de proporcionar um prognóstico e, para algumas pacientes, a possibilidade de conferir a cura do tumor”, alerta Nardi.

O mês de outubro chega para reforçar a necessidade de o tutor fazer essa avalição em casa e, ao detectar algum nódulo ou aumento de volume, recomenda-se que o animal seja levado ao médico-veterinário para avaliação clínica e orientação sobre a melhor abordagem de diagnóstico e tratamento. 

A cada ano, o Outubro Rosa Pet ganha maior adesão e, em 2020, em meio à condição de distanciamento devido à covid-19, médicos-veterinários se uniram para fortalecer a campanha de um novo jeito, por meio das mídias sociais. Coordenados pelo professor Geovanni Dantas Cassali, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está sendo promovida a Campanha Nacional de Prevenção ao Câncer de Mama em Animais de Companhia.

Na programação do Outubro Rosa Pet Brasil realizará um evento on-line e gratuito, de 26 a 29 de outubro de 2020, que reunirá palestrantes de todo o país. Mais informações podem ser encontradas no Instagram @outubrorosapet

Prevenção

Segundo Nardi, a literatura cita e na prática ele já comprovou que a castração precoce é uma das formas de prevenir os tumores de mama. Antes, se preconizava a castração antes do primeiro cio. Agora a orientação mudou, pois trabalhos publicados nos últimos cinco anos, descrevem consequências indesejadas relacionadas com a castração precoce, como tendência à incontinência urinária na fase adulta, alterações comportamentais e favorecimento à obesidade. Em cadelas de grande porte e gigantes podem ocorrer até alterações de desenvolvimento ósseo. “Por esses motivos, temos indicado a castração entre o primeiro e segundo clico estral [cio]”, orienta o professor. 

De acordo com a médica-veterinária Márcia de Figueiredo Pereira, a influência hormonal é um dos fatores de risco mais relevantes, por isso a indica-se a castração como forma de prevenção.  

“O risco de desenvolver carcinomas mamários é de 0,05% em cadelas castradas antes do primeiro cio e houve redução de até 91% [da doença] em gatas castradas antes dos 6 meses de idade. No entanto, a idade de castração ainda é um tópico de discussão considerando-se o risco de problemas ortopédicos ou outras neoplasias”, pondera. 

Assim como Nardi, Márcia também sugere a castração entre o primeiro e o segundo cio, e afirma que o uso de progestágenos ou estrógeno-progestágenos também foi associado ao desenvolvimento de tumores benignos ou malignos em gatas e a carcinomas mamários em cadelas.

Causas

Professora associada de Patologia, do Departamento de Medicina Veterinária, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Márcia lembra que a complexidade dos tumores mamários tem instigado pesquisadores a realizar estudos que contribuam com a redução de riscos de desenvolvimento e evolução da doença. Segundo a docente, o alto risco de morte coloca o câncer de mama em destaque, uma vez que muitos estudos têm demonstrado que a maioria dos tumores mamários em cadelas e gatas é maligno.

Diversos fatores de risco tem sido objeto de estudos, como idade, raça, dieta, obesidade e fatores hormonais, segundo a professora. “As cadelas acometidas têm geralmente entre 7 e 12 anos, enquanto, em gatas, as neoplasias são mais frequentes entre 10 e 11 anos de idade”, afirma. Para ela, a dieta e a obesidade, especialmente em animais obesos desde o primeiro ano de vida, são fatores importantes que têm sido associados ao desenvolvimento de tumores mamários.

Márcia relata que a compreensão dos fatores de risco é importante para a prevenção, mas é necessário ainda estabelecer condutas para o diagnóstico, prognóstico e tratamento dos tumores mamários. Para isso, médicos-veterinários de todo o país reúnem-se periodicamente para elaborar um consenso que conduza a resultados práticos e atualizados, fornecendo diretrizes sobre as neoplasias mamárias. “Estes encontros conduziram a produção de artigos [Braz. J. Vet. Pathol., v.7, n.2, 2014; Braz. J. Vet. Res. Anim. Sci. 2018, v.55, n.2, 2018] que tem auxiliado a aprimorar o diagnóstico e direcionar condutas terapêuticas que melhorem os resultados com relação às neoplasias mamárias”, revela.

Tratamento

Nardi explica que o tratamento de eleição mais apropriado ainda é o cirúrgico, especialmente quando está restrito à mama. Em casos de tumores malignos agressivos, de acordo com critérios e indicadores relevantes de malignidade, o profissional indica a realização de quimioterapia antineoplásica no pós-operatório, como tratamento complementar, na tentativa de melhorar o prognóstico e aumentar a sobrevida.

Márcia concorda que o protocolo cirúrgico para cada paciente se baseia no tamanho da lesão primária, na presença de metástases em linfonodos e de metástases distantes. “O diagnóstico histopatológico continua sendo o padrão ouro, que é a melhor ferramenta para prever o comportamento biológico, mas o estudo de marcadores prognósticos e preditivos podem auxiliar o planejamento terapêutico, além de oferecer alternativas para tratamento e aumentar as chances de sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente”, declara.

Como tratamento complementar, para Nardi as práticas integrativas são bem-vindas. “Vemos na prática que a acupuntura ajuda a reduzir a dor e manter o equilíbrio orgânico da paciente, até mesmo para que ela consiga tolerar de forma mais tranquila o tratamento convencional”, explica.

A radioterapia também é uma opção, segundo ele, podendo ser indicada em alguns casos de tumores que não são operáveis. “Lesões muito grandes, que comprometem várias mamas, ao longo das duas cadeias mamárias e com infiltração na parede da cavidade abdominal, a radio pode ser uma opção”.

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