O fim do câmbio manual


As novas tecnologias voltadas à redução do número de acidentes de trânsito e o aumento da oferta de modelos elétricos devem decretar o fim do câmbio manual. Essa mudança, que já era visível para quem acompanha o setor, foi condensada em um relatório feito e recém-divulgado pela Automotive News Canadá.

Segundo o estudo, sistemas como a frenagem automática de emergência, por exemplo, são inviáveis em veículos com câmbio manual. Esse e outros recursos avançados de segurança são cada vez mais comuns e já podem ser encontrados em modelos que, no mercado brasileiro, são vendidos com preços em torno de R$ 100 mil.

O sistema que utiliza sensores e câmeras e aciona os freios quando “percebe” a iminência de risco de atropelamento ou colisão deverá ser obrigatório em breve em países da Ásia e Europa, assim como os Estados Unidos e o Canadá. Portanto, decretará o fim do câmbio manual nesses mercados.

No Brasil, a presença do câmbio automático nos carros novos não para de crescer. Basta ver a lista dos mais emplacados. Porém, o fim da transmissão manual deve demorar a ocorrer por aqui.

Colaboram com isso o preço mais alto e o fato de o País ter um histórico de adiar o cronograma de obrigatoriedade de novas tecnologias em veículos. Sobretudo as ligadas à segurança e nível de emissões de poluentes.

A mudança mais recente diz respeito à obrigatoriedade da instalação de controle eletrônico de estabilidade (ESC) nos carros novos, que deveria valer a partir de 2022. Porém, as montadoras alegaram supostos problemas e atrasos por causa da pandemia. Como resultado, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) postergou a obrigatoriedade da presença do equipamento para 2024.

Ou seja, modelos veteranos que deveriam sair de linha por não comportarem o sistema ou por causa do alto custo de sua implementação, ganharam sobrevida. Dessa lista, fazem parte carros como o Fiat Uno, a dupla Gol e Voyage, da Volkswagen, e o Joy, antigo Chevrolet Onix.

Esses modelos são justamente os que concentram a maior demanda pelo câmbio manual. Esse tipo de transmissão estava presente em cerca de 97% dos Gol, 63% dos Onix e 96% dos Argo novos vendidos em 2020. Cabe lembrar que, no caso hatch da Fiat, o número deve mudar após a chegada do câmbio automático do tipo CVT, prevista para breve.

De modo geral, esses carros têm preços iniciais abaixo dos R$ 70 mil. Porém, com transmissão automática a tabela ultrapassa essa barreira. Veja, à esquerda, a lista dos cinco modelos automáticos mais baratos em três categorias.

FIM DOS CARROS PARA PCD

Assim, deixam de atender uma importante fatia do mercado: o público PCD, sigla para Pessoa com Deficiência. Isso porque, para esses consumidores, o câmbio automático é item praticamente mandatório.

Mas, para que esse comprador tenha direito à isenção total do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a tabela do carro não pode superar R$ 70 mil. Ou seja, não há mais carros automáticos à venda no Brasil nessa faixa de preço. Assim, o interessado terá de pagar o imposto proporcional sobre o valor excedente.

No caso do Jeep Renegade, por exemplo, o SUV mais vendido do Brasil, com preço sugerido a partir de R$ 96.094 (em São Paulo), todas as versões têm câmbio automático. O T-Cross com transmissão automática parte de R$ 112.790 e o Chevrolet Tracker LT automático, de R$ 106.890. Tanto no Volkswagen quanto no Chevrolet, as versões sem pedal de embreagem respondem por praticamente 100% das vendas.

CARROS ELÉTRICOS

Outro fator que decretará o fim do câmbio automático é a oferta de carros elétricos. Embora os números absolutos ainda sejam baixos, a alta nas vendas foi de 66,5% em 2020. Ou seja, de 11 858 unidades emplacadas em 2019 para 19.745 no ano passado.

Esse número inclui os híbridos, cuja maioria tem câmbio automático. Nos 100% elétricos, a transmissão de força é feita sem uso de caixa de marchas.

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