Cia Fragmento de Dança abre mostra Mulheres em Cena com ‘Eu, Outra’ no Kasulo

Foto: Marcela Guimarães

Entre 22 e 31 de outubro, acontece a segunda etapa da 5ª edição do
“Mulheres em Cena”, projeto idealizado por Vanessa Macedo e
produzido pela Cia Fragmento de Dança, com mostra de 10 estreias ou
trabalhos cênicos recém estreados, que exploram materiais
autobiográficos e o depoimento como linguagem. As apresentações
acontecerão de modo presencial, no Kasulo Espaço de Arte, sede da Cia,
e em outros dois espaços parceiros – Teatro Cacilda Becker e Oficina
Cultural Oswald de Andrade. No encerramento (31), às 19h, as
artistas envolvidas se encontram com o público, para um bate-papo
on-line pela plataforma Zoom.

Na abertura, sexta (22), a Cia Fragmento de Dança ocupa o Kasulo, às
21h, para a estreia de “Eu Outra”, um passeio por algumas de suas
criações que discutem o feminino. Plagiando a si mesma, a Cia
constrói sua autoficção, ora duplo, ora sombra, onde os corpos
desenham e borram seus contornos em imagens que se organizam e se
confundem no espaço. Com trilha de Gustavo Domingues, a coreografia de
Vanessa Macedo, dançada junto com Maitê Molnar, conta com a
participação cênica de Cristiano Saraiva e Vinicius Francês. Sandro
Borelli responde pela luz, Thainá Souza opera o som e Maitê Molnar
também assina os adereços.

Dias 23 e 24, o Teatro Cacilda Becker tem duas apresentações no
sábado e uma no domingo.  “Estudo de Ficção”, de Beatriz Sano é
o primeiro de sábado (21h). Partindo da premissa de que a ficção
está dentro do corpo, o trabalho tenta borrar o limite entre realidade
e ficção e potencializar as fábulas e narrativas já existentes num
espaço aparentemente vazio. A proposta é criar o máximo de
possibilidades de gestos ficcionais, como se cada pequena parte do corpo
pudesse se desmantelar e objetos saíssem de dentro dele. Com
dramaturgia de Júlia Rocha e Eduardo Fukushima, “Estudo de
Ficção” tem Miguel Caldas na criação de som, Gabriela Luiza na luz
e Chico Leibholz na operação de áudio.  Alex Cassimiro e Hideki
Matsuka assinam o figurino.

Na sequência, Mirê Pi dança “Sargaço”, que propõe alargar as
interações afetivas entre corpo-imagem-superfície, dentro de uma
perspectiva erótica, tendo o prazer como princípio gerador do
movimento. Ao potencializar a experiência erótica na interface desses
encontros, o solo busca questionar o repertório de prazer que compõe
um corpo e fundir-se entre matérias, fluídos e possíveis forças
evocadas. Mirê Pi contou com Kamilla Mesquita na dramaturgia, Caio Jade
na consultoria artística e Luiza Leal nos vídeos projetados. A trilha
sonora é de Ana Galganni e o figurino do Ateliê Thalita Almeida.

Domingo, às 19h, Jéssica Barbosa entra em cena com “Em busca de
Judith”, dirigido por Pedro Sá Moraes. Ao se deparar com uma foto em
um livro e ouvir um relato familiar, a atriz baiana passou a investigar
as condições da morte de sua avó paterna, Judith Alves Macedo, que
desde a infância acreditou tivera ocorrido num acidente de carro. Na
verdade a mulher negra, mãe de cinco filhos, fora internada
compulsoriamente num hospital psiquiátrico, onde permaneceu até a sua
morte, em 1958. A peça é sobre as buscas e descobertas dessa
história, permeada pelo silenciamento das vozes femininas e questões
que atravessam o sistema manicomial. Além da direção, Pedro Sá
Moraes assina a dramaturgia, a trilha original e também a luz, ao lado
de Fabiano de Freitas; direção de movimento, assistência de direção
e preparação corporal são de Leandro Vieira; Ana Rita Bueno responde
pelo cenário e Cris Rose pelo figurino.

De 28 a 30 (quinta, sexta e sábado), a Oficina Cultural Oswald de
Andrade concentra a apresentação de seis trabalhos, dois por noite. A
dançarina, palestrante e escritora, Mona Rikumbi, primeira mulher negra
e cadeirante a atuar no Teatro Municipal de São Paulo, apresenta na
quinta, às 19h, “Kiua Matamba, a força dos ventos”. Por meio dos
valores da cosmovisão africana bantu, o trabalho propõe uma solução
lúdica, que pode soprar para bem longe de qualquer criação viva, a
dor, o medo, a pandemia, as diferenças raciais e sociais. Em sua
mensagem de dignidade e bem viver a todo mundo, Mona Rikumbi é
acompanhada ao vivo pelo músico Ngoma.

Tatiana Guimarães entra às 20h, com “Breve”, que traça um
paralelo entre a história de sua avó e a situação macropolítica do
Brasil, do fim da ditadura militar até os dias atuais. “Breve”
postula que a ascensão do autoritarismo tem profundos traços
patriarcais e traz como pano de fundo a perspectiva de um atentado ao
feminino – metaforizado nas figuras da avó e da democracia. No
aspecto mitológico, o trabalho reflete dualismos como vida e morte,
feminino e masculino, democracia e autoritarismo, que se desestabilizam
de forma irruptiva de tempos em tempos. Andrea Mendonça responde pela
direção audiovisual, a luz é de Lucia Chedieck e Daniel Conti assina
o desenho sonoro.

A performer e videoartista paulistana Estela Lapponi, que tem no centro
de sua investigação o discurso do corpo com deficiência, começa as
apresentações da sexta (29), com B.U.N.I.T.A.S. Composta por ação ao
vivo – a performer vestida com uma indumentária de cirurgiã, corta
sem parar, com um cutelone, um grande pedaço de carne crua pendurado
– e instalação visual – projeção de um vídeo documentário, com
fotografia fechada em bocas de sete mulheres cis, que descrevem suas
vulvas e como gostam de tocá-las -, a performance propõe uma nova
narrativa em resposta à ninfoplastia – prática cirúrgica de
“correção” da vulva. Participam da obra Angélica di Paula,
Cristina Maluli, Juliana Fierro, Luanah Cruz, Paula Cohen, Thais Ponzoni
e Vanessa Moraes.

O trabalho seguinte, “Almarrotada”, com a atriz Melina Marchetti, é
uma investigação sobre solidão “acompanhada” de mulheres casadas
no Brasil e no mundo. Do dilema entre a angústia e a promessa de
libertação de uma mulher diante da morte iminente de seu marido, de
quem passou a vida cuidando, a peça verte histórias, desejos,
comportamentos aprendidos e medos da mulher relegada pela sociedade à
condição de coadjuvante como cuidadora e o caminho para resgatar o
protagonismo de sua vida. Com orientação de Luiz Fernando Marques
(Lubi) e provocação cênica de Bruna Betito, “Almarrotada” tem
Denise Hyginio na operação de som e luz, figurino de Nagila Sanchês e
Bira Nogueira na cenotécnica.

No sábado, as apresentações começam uma hora antes – às 18h, com “mulheres sem fim”, de Andréia Nhur, e segue sem intervalo com Inés Terra em “Una miranda desde la alcantarilla”. “Mulher sem fim” transita entre dança, teatro, música e performance, para edificar um corpo constante trespassado por ecos de mulheres presentes nas memórias de diversas culturas. De madame Bovary a Lady Macbeth, passando por Carmen Miranda, o trabalho traça uma dramaturgia da transformação corpórea de uma performer que desenha e apaga sua própria identidade de gênero, por meio de citações de outras mulheres. Com textos da própria Andréia Nhur, “Mulher sem fim” contou com a colaboração de Paola Bertolini, Janice Vieira e Roverto Gill Camargo, que também responde pela iluminação

Por último, “Una mirada desde la alcantarilla” tem ignição na
poesia da escritora argentina Alejandra Pizarnik. No solo de Inés Terra
– uma escuta da cidade pelo seu subterrâneo –, a memória é
recriada por vozes, numa tentativa de reconstruir os materiais a partir
dos resquícios sonoros e reverberações no corpo. A luz de Maria
Basulto tem operação de Cyntia Monteiro; Renan Gama é o técnico de
som

A mostra se encerra no domingo com uma conversa com as artistas sobre
seus processos de criação, aberta pela plataforma Zoom, às 19h.

Mulheres em cena

“Mulheres em cena” surgiu em 2018, com o desejo de difundir trabalhos concebidos e dançados por artistas mulheres. Inicialmente estruturado de maneira independente, as edições anteriores propuseram recortes específicos, tendo se inaugurado com trabalhos apresentados apenas pelo elenco da Cia Fragmento, depois, já como mostra, por artistas mães e, por último, por mulheres interessadas na cena-depoimento como linguagem. A 5ª edição traz assuntos plurais , mas mantém o interesse em explorar a discussão sobre gênero a partir da simbiose vida e obra, numa relação em que o poético e o político coexistem.

Mulheres em Cena é financiado pelo edital ProAC Expresso Lei Aldir
Blanc – Prêmio por Histórico de Realização de Mostras, Festivais
e outros eventos culturais

Serviço

5º Mulheres em Cena – Mostra de apresentações cênicas

Sexta-feira (22)

Kasulo Espaço de Arte

Rua Souza Lima, 300 – Barra Funda

21h – “Eu Outra” – Cia Fragmento de Dança

Duração: 40 minutos l classificação etária: 14 anos

Sábado (23) e domingo (24)

Teatro Cacilda Becker

R. Tito, 295 – Lapa

23/10 – 21h

“Estudo de Ficção” – Beatriz Sano

Duração: 30 minutos l classificação etária: livre

“Sargaço”, de Mirê Pi

Duração: 30 minutos l classificação etária: 14 anos

24/10 – 19h

“Em busca de Judith” – Jéssica Barbosa

Duração: 45 minutos l classificação etária: 12 anos

Quinta (28), sexta (29) e sábado (30)

Oficina Cultural Oswald de Andrade

Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro

28/10

19h – “Kiua Matamba – a força dos ventos” – Mona Rikumbi

Duração: 35 minutos l classificação etária: Livre

20h – “Breve” –Tatiana Guimarães

Duração: 15 minutos l classificação etária: 18 anos

29/10

19h – “B.U.N.I.T.A.S.[CE]” – Estela Lapponi

Duração: 25 minutos l classificação etária: 18 anos

20h – “Almarrotada” – Melina Marchetti

Duração: 40 minutos l classificação etária: 14 anos

30/10 – 18h (sem intervalo)

Mulher sem fim – Andréia Nhur

Duração: 50 minutos l classificação etária: livre

Una mirada desde la alcantarilla – Inés Terra

Duração: 25 minutos l classificação etária: livre

31/10 (domingo), 19h

Bate papo com as artistas participantes

Plataforma ZOOM

Sala ZOOM

ID da reunião: 897 2528 3409

Senha de acesso: mulheres

Ingressos Gratuitos – distribuição 1h antes na bilheteria dos locais

Capacidade de público reduzida

Obrigatório apresentação de carteira de vacinação com pelo menos a
1a. dose

Distanciamento de 1m entre as cadeiras na platéia

Uso de máscara obrigatório

Quem participa

Cia Fragmento de Dança – núcleo artístico de pesquisa e produção
em dança contemporânea, sediado. Ao longo dos seus 19 anos de
existência, construiu uma linguagem estética autoral interessada em
discutir gênero, autoimagem, fricção entre vida e obra. Nos últimos
anos, tem se voltado para a investigação do autodepoimento na cena, a
experiência da alteridade e a dimensão política do falar sobre si em
processos de criação.

Beatriz Sano – professora, coreógrafa e dançarina, vem afirmando a
presença da voz e do movimento como elementos fundamentais para a sua
pesquisa. Faz parte da key zetta e cia e tem parcerias com Eduardo
Fukushima, Júlia Rocha e Isabel Ramos Monteiro. Pratica o _seitai-ho,_
com Toshi Tanaka e Ciça Ohno; é professora da Escola Livre de Dança
de Santo André e cursa o mestrado em Artes da Cena pela UNICAMP.

Mirê Pi – artista não binárie, atuante na dança contemporânea,
performance, palhaçaria e arte educação. Produz seus trabalhos de
maneira independente e autoral partindo de perspectivas relacionadas ao
pós-pornô, a comicidade e a educação somática como base para a
pesquisa de movimento. Atualmente está se graduando em licenciatura em
Dança na Universidade Federal de Alagoas.

Jéssica Barbosa – atriz e realizadora baiana, com uma produção
artística voltada para os temas da negritude, saúde mental, feminismo
e corpos não hegemônicos. Durante três anos foi artista residente do
Programa Casa B, do Museu Bispo do Rosário, do Rio de Janeiro, onde
idealizou e realizou a série de encontros online INTERFACES: arte e
saúde mental, e a peça-filme “Em busca de Judith”, com direção
de Pedro Sá Moraes.

Mona Rikumbi (filha do Sol) – primeira mulher negra e cadeirante a
atuar no Teatro Municipal de São Paulo, possui dois documentários –
“Mona a trajetória da mulher negra e cadeirante no Brasil” e “Eu tô
aqui” -, ambos de Lucca Messer. Atriz, dançarina, palestrante,
escritora, é co-produtora do documentário TRANSO, afirmação da
sexualidade da pessoa com deficiência. Possui selo de criativista pelo
ONU (2020 e 2021); participou do Festival Assim Vivemos (2019 e 2021), e
do Festival Sem Barreiras (2020).

Tatiana Guimarães – graduada em cinema e mestranda pela USP,
trabalhou com reconhecidos(as) artistas da dança de SP e com
diretores(as) de teatro e cinema. Agente cultural desde 2006, criou, em
2013, o núcleo ‘Micromovimentos Dança&Cinema’ – projeto
artístico nas intersecções entre as linguagens da dança e do
cinema. Publicou artigos em revistas, como a ‘Urbânia’, da Bienal
de Artes, e escreve para livros didáticos de arte, nas áreas de
dança e cinema, pela editora IBEP.

Estela Lapponi – performer e videoartista paulistana, tem como
objetivo de investigação artística o discurso do corpo com
deficiência, a prática performativa e relacional (público) e o
trânsito entre as linguagens visuais e cênicas. Desde 2009, realiza
práticas investigativas em diversas linguagens sobre o conceito que
criou – Corpo Intruso e sua performatividade em Zuleika Brit.

Melina Marchetti – é atriz, dramaturga e diretora, bacharel em Artes
Cênicas pela Universidade Estadual de Campinas. Com 12 anos de
trajetória artística, há quatro desenvolve o projeto Almarrotada,
onde, sob a ótica feminista, pesquisa sexismo, protagonismo de vida das
mulheres, construções sociais do amor romântico e da
heteronormatividade compulsória.  Recebeu os prêmios de Melhor Atriz,
Espetáculo, Cenário e Iluminação pelo monólogo “Almarrotada”,
no 8º Festival de Teatro de Sarapuí (SP).

Andréia Nhur – artista e professora no Departamento de Artes Cênicas
da USP, já se apresentou em festivais internacionais em Portugal,
Bélgica, Argentina, Bolívia e Brasil, em produções que transitam
entre dança, teatro e música. Junto aos coletivos Katharsis e
Pró-Posição, foi premiada com o APCA 2013 (pesquisa em dança) e
Prêmio Denilto Gomes 2017 (melhor intérprete), além de ser indicada
aos prêmios APCA de melhor atriz em 2015 e APCA de melhor espetáculo
de dança em 2017. Em 2020, foi professora visitante da Ghent University
(Bélgica) e desenvolveu residências artísticas em parceria com Paola
Bertolini.

Inés Terra – musicista e performer, explora a voz como um modo de
habitar diferentes corpos e estuda relações entre gênero, voz e
tecnologia. Idealizou a série de performances vocal “Língua Fora”, em
parceria com a Editora Leviatã. Lançou o álbum audiovisual Ruminar
(Editora Leviatã), o disco Teia (RKZ Records), com Julia Teles, e
participou de eventos focados na música exploratória e na performance,
como o Ciclo Dissonantes (BR, 2016 & 2017), Cartografia do Possível
(CRDSP, 2018), CHIII Festival (BR, 2021), Movement Research at the
Judson Church (2019, EUA), Ciclo Ruído, (AR/EUA, 2021), Festival de Eco
Performance (BR, 2021), da companhia Taanteatro e Dystopie Festival
(Berlim, 2020).

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