Retomada do carnaval movimenta pequenos negócios voltados ao setor da moda

Fernando Frazão/Agência Brasil
- PUBLICIDADE -

A contagem regressiva começou. A tão aguardada folia, regada a glitter, bloquinhos, serpentina e diversos gêneros musicais, está de volta. Os devotos de carnaval se preparam para colocar na rua as fantasias que ficaram guardadas ao longo de dois anos por causa da pandemia de covid-19. Seguindo esse movimento de retomada, do lado de trás da vitrine, surgem novos negócios voltados à festividade. Aqueles que já existiam antes da crise sanitária, por sua vez, tentam se consolidar no mercado

Graças a um conselho do avô, a empreendedora Duda Carvalho, 25, não fechou as portas da Carnavália, marca paraibana criada em 2018, que já vestiu artistas como Duda Beat, Letrux e Liniker. Apesar do sucesso, a empresa passou por maus bocados durante a pandemia devido ao cancelamento da festividade. Naquele momento, ela aceitou a sugestão do avô de lançar coleções para além do perímetro da folia.

Com o desafio de deixar de ser uma marca sazonal, Duda convidou a amiga Olívia Fleury, 25, para se tornar sócia do empreendimento. Mesmo com a mudança, a dupla não deixou para trás o propósito inicial da marca: ter o carnaval como um estado de espírito. “A gente precisava furar a bolha dos produtos, mas não queríamos abandonar as coisas lúdicas”, conta Olívia. A partir daí, elas passaram a incorporar a estética da folia em roupas que poderiam ser usadas no cotidiano, como calças, bodys e croppeds.

Assim como a Carnavália, muitos empreendimentos dos setores de moda e de confecção precisaram repensar a linha de produção para conseguir sobreviver. O movimento consolidou a aposta na “tendência home office”, um investimento na oferta de roupas confortáveis para serem usadas os ano inteiro, conforme explica o gerente de relacionamento com o cliente do Sebrae, Enio Pinto. “A pandemia trouxe essa consequência: as empresas tiveram que revisitar o problema original. Nesse caso, a cadeia de valor”.

“Made in Parahyba” é a coleção mais recente da marca e reúne peças versáteis para serem aproveitadas na folia e no resto do ano. Como a maior parte das vendas vem de fora da Paraíba, o plano das empresárias é conquistar espaço no Estado natal da Carnavália e, em paralelo, consolidar a empresa em São Paulo, onde os novos produtos foram lançados. “A ideia é fortalecer o sentimento de pertencimento e ir contra o termo pejorativo ‘de ser da Paraíba’ é um caminho disruptivo”, afirma Duda.

Hoje, a empresa possui um sócio investidor e mantém, de forma fixa, três costureiras, duas bordadeiras, uma cortadeira e uma modelista. A meta deste ano, segundo as sócias, é consolidar o negócio no e-commerce perpetuando a essência autoral da marca. “A moda que eu acredito é a do carnaval”, resume Duda.

Um top para chamar de seu

“Minha carne é de carnaval, o meu coração é igual”. Os versos do grupo Novos Baianos poderiam facilmente ser confundidos com uma das produções de Nathalle Peres. Isso porque, no seu negócio, ela soube conectar a vontade de adquirir peças originais e a paixão pelo fervor carnavalesco ao talento na produção manual. “Todos os anos sempre tinha alguém que me pedia ajuda com fantasia”, relembra. Em 2022, após compartilhar o resultado da primeira criação do top de acrílico aos seus mais de 6 mil seguidores no Instagram, a demanda veio.

Depois do cropped com opções variadas de cores e em formato de coração, estrela e flor, a empreendedora lançou outras peças de acrílicos: vestido, saia e cinto.

Mas tinha um problema: ela não podia dedicar-se integralmente ao serviço por conta do trabalho. Como solução, Nathalle chamou os pais para somar no empreendimento e contratou uma costureira. Deu certo. Ela sentiu a necessidade de profissionalizar o negócio e decidiu montar um site, a ‘Lojinha da Nathalle’. Antes, as vendas eram feitas por meio de um formulário do Google “Às vezes, eu me atrapalhava. O site deixa mais formal e organizado”, afirma. Para o Carnaval de 2023, ela investiu o 13º salário em compras de materiais e outros gastos da produção. Os tops custam em torno de R$ 300 e são feitos à mão.

Faça você mesmo

Ao fazer jus à característica acessível, o carnaval apresenta opção para todo tipo de gosto e bolso. As pesquisas sobre inspirações de roupas carnavalescas comprovam esse indício. Desde o começo de janeiro, houve um aumento expressivo na procura pelo assunto, segundo dados do Google Trends, monitor de tendências de pesquisa. O interesse de busca por temáticas, como “fantasias de carnaval improvisadas” e “fantasia de carnaval fácil de fazer” cresceu, respectivamente, 100 e 70%.

Quem pretende economizar e decide criar o próprio look encontra na internet não só tutorial sobre fantasias, como também adereços, maquiagens, dicas de onde comprar, além de roupas que vão bombar.

Por trás dessas produções audiovisuais estão criadores de conteúdos como Amanda Britto, 36, que produziu 22 ações comerciais sobre carnaval para empresa somente em 2020, o último ano de folia oficial antes da pandemia.

“É o momento do ano que mais trabalho”, relata. Para quem acompanha a criadora nas redes, isso não é uma novidade. Ela compartilha ideias sobre a folia há mais de 12 anos. A comunidade estende-se a grupos no Facebook e no WhatsApp onde Amanda divulga, com exclusividade, dicas e produções mais recentes.

Nesses canais, se você nunca imaginou montar um sutiã de franja de strass ou até mesmo uma saia de miçangas, essa é uma oportunidade para experimentar coisas novas. O conteúdo não é restrito em uma única rede: em um dos seus vídeos, com mais de 500 mil visualizações no TikTok, ela ensina a fazer uma bolsa pequena de latinha. Esses tutoriais foram responsáveis pela fidelização do público da criadora.

A hasthag #CarnaStarving, idealizada por ela para pessoas comuns compartilharem as escolhas de carnaval, já foi marcada em mais de 5 mil publicações no Instagram. Não demorou para Amanda virar uma referência no nicho e transformar o carnaval em carro-chefe de seu trabalho. Só que ela não esperava uma pandemia. “Eu precisei recalcular a minha rota”, diz.

A experiência em economia criativa a permitiu criar manuais para outras áreas, a exemplo de receitas e decoração de casa. “Eu quis pulverizar calor, alegria e brilho para o resto do ano”, conta. Em 2021, primeiro mote do carnaval em casa, ela fez cinco trabalhos para empresas. Agora, com o retorno dos bazares e oficinas presenciais, ela estima retomar sua principal renda anual. “As marcas vão voltar a olhar a data comercial como ela é”, anima-se.

Dicas para empreender no carnaval:

A pandemia acelerou o processo de transformação digital. Por isso, lapidar conteúdos nas redes e assegurar o formato digital são dicas imprescindíveis para aumentar as vendas, sugere Enio Pinto, do Sebrae. “Hoje, não tem como uma empresa existir sem presença na internet”, afirma. Aqui estão outras dicas que o especialista orienta como cruciais para empreendimentos da área:

. Capacitação. Realizar cursos de Marketing Digital e outras áreas semelhantes para atuação nas redes sociais.

. Parceria com fornecedores. Esse recurso evita que o empreendedor fique refém de uma única empresa, pois em caso de imprevistos terá mais de uma opção. Na época do carnaval, a demanda aumenta e os prazos são mais curtos, então é necessário diversificar o fornecimento do material bruto.

. Equipe preparada para o calendário. Ter um time treinado para fazer atendimento em alta escala mantém a qualidade do atendimento e da procura.

. Imersão. Caprichar no ambiente pode criar uma experiência memorável para o cliente. Vale a pena apostar em cores, playlist, na maneira que o produto é ofertado para o consumidor

. Cross selling. Encontrar produtos complementares que podem ser consumidos no Carnaval fortalece parcerias externas. Por exemplo: quem vende adereços pode fazer collab com lojas que comercializam purpurina.

. Oferecer delivery. Tem muita gente que deixa para comprar as peças da folia em cima do feriado. Por isso, ter um serviço que permita entregar os produtos dentro de algumas horas facilita a compra.

. Versatilidade. Não se fechar ao novo e se manter preparado para possíveis mudanças no mercado.

- PUBLICIDADE -