Metrô: falta de informação sobre desapropriação apavora moradores da Ponte Grande

Guarulhos HOJE
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Maria Menezes

Vivendo no bairro há mais de 30 anos, os moradores da rua São Pedro, na Ponte Grande, enfrentam uma incerteza devido à falta de informação em relação a provável desapropriação da área para as obras da Linha 2-Verde do Metrô em Guarulhos. De acordo com eles, até o momento não existe conhecimento por parte dos proprietários ou inquilinos da rua, que descobriram sobre a ação somente após a publicação do decreto nº 67.321, feita no Diário Oficial do Estado de São Paulo no dia 4 de novembro do ano passado, que cita a retirada dos imóveis necessários para a implantação de estações, ventilações, saídas de emergência e vias elevadas da linha.

Entre janeiro e março deste ano, uma equipe da empresa esteve no bairro para cadastrar os imóveis que serão desapropriados, mas nenhuma informação sobre data ou como será feito foi dita. Durante a visita, foi entregue aos moradores um documento que informa os procedimentos que serão adotados, como o envio de notificações extrajudiciais ofertando o valor, bem como as visitas para medição de terreno que serão realizadas sem data marcada. Ação que tem gerado insegurança para a população do local devido a situações com pessoas que tentaram se aproveitar da desapropriação para ter acesso as residências.  

“Nós estamos no escuro pois logo que se espalhou a notícia, muitos advogados começaram a vir até nossas casas, arremessavam inúmeros folders com propostas para avaliações dos imóveis, fazendo pressão psicológica enquanto afirmavam que eram do Metrô, com mapas em mão, para entrar nas residências, mas eram advogados. Nas visitas da equipe real do Metrô ela informou que voltaria para as medições, mas eu questionei como podemos saber se realmente são da empresa, já que não recebemos nenhuma informação concreta e já passamos por essa situação com os advogados. Eu não posso deixar qualquer um entrar na minha casa”, explicou Virginia Kawai, moradora do bairro há 46 anos.

De acordo com a publicação feita no Diário Oficial do Estado, serão desapropriados 2.286 metros quadrados e 74 decímetros quadrados de imóveis dos alinhamentos par e ímpar da rua São Pedro.

A ação tem gerado uma série de transtornos também para a saúde aos moradores. Em uma rua de histórias antigas, a ideia de deixar a residência que conquistou e viveu por anos tem afetado principalmente a população mais antiga, que desenvolveu transtornos psicológicos como depressão e ansiedade. O HOJE se reuniu com cerca de 30 moradores da região, que apresentaram o desespero vivido diante da necessidade de deixar as residências sem uma data prévia, principalmente por não saberem quando deixarão o local e para onde poderão mudar após o pagamento.

‘A gente não precisa de mais nada, só uma posição para sair dessa
angústia e tristeza’

Esse é o caso de Rosimeire Aparecida Siqueira, moradora da rua há 60 anos. Ela conta que, apesar de estar feliz pela chegada do transporte na cidade, sente a retirada da casa em que cresceu com os pais e o afastamento de vizinhos a quem tem como família.

“Eu desenvolvi depressão por não saber o que vai acontecer com a gente. É muito triste ver tudo isso, nós queremos apenas uma resposta, não precisamos de mais nada, é apenas uma posição para sairmos dessa tristeza e angústia. São muitos anos de moradora e agora nós vemos tanta gente com problemas por aqui, tantos amigos depressivos. Muitas pessoas impactadas assim como eu, porque não é fácil. Eu quero o Metrô, mas justo aqui? Nós somos uma família e estão nos tirando o direito de permanecer aqui. A única coisa que eu tinha na vida era essa casa. Eu acreditava que era minha, mas já não é mais. Eu acreditei que morreria aqui, mas estou vendo que isso não vai acontecer e é muito triste”, relatou.

‘Eu acredito que vai beneficiar muitas pessoas, mas, em
outros termos, mais prejudicar o pessoal que mora aqui há muitos anos’

Para Célia Viana Ferreira de Almeida, o medo de encontrar uma nova residência que atenda suas necessidades como a construída na rua São Pedro é o que toma conta diante de tudo o que vem passando. “Eu acredito que a chegada do Metrô beneficiará muitas pessoas, mas também prejudicará os moradores que moram aqui há tantos anos. Pessoas de idade, que moram há mais de 50 anos, isso está sendo terrível para nós. Eu hoje moro na casa que um dia foi da minha vó, eu tenho minhas árvores, sou uma protetora animal, então tenho muitos bichos e como eu vou fazer? Para onde eu vou com eles?“, disse. A aposentada reside no local há 50 anos.

O HOJE entrou em contato com o Metrô para apurar informações sobre o início das desapropriações na cidade, mas a empresa não respondeu até a publicação desta reportagem.

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