Caps AD oferece tratamento gratuito para dependência química

Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo
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Maria Menezes

Ainda que o caminho pareça não ter solução, o tratamento contra a dependência química é uma realidade e em Guarulhos a busca por essa cura pode ser feita de maneira gratuita. Além dos serviços comuns, como os equipamentos de acolhimento social, a prefeitura disponibiliza, através do Centro de Atenção Psicossocial Doutor Arnaldo Bravo Brant – Álcool e outras drogas (Caps AD), um serviço de acolhimento e tratamento de reabilitação contra a dependência química.

O local oferece consultas médicas com especialistas, rodas de terapia e atividades que visam o tratamento contra as drogas. Localizado na rua Joaquim Miranda, 298, na Vila Augusta, a procura deve ser feita de forma voluntária, sem a necessidade de agendamento ou encaminhamento, das 7h às 19h. A inserção na unidade pode ser feita também a partir de casos de urgências, atendidos em leitos hospitalares e psiquiátricos dos Hospitais Municipais de Urgência (HMU), Pimentas Bonsucesso e o Complexo Hospitalar Padre Bento, desde que haja consentimento e vontade do paciente. O CAPS atende pessoas com idade a partir de 18 anos.

Ao procurar a unidade, o paciente é primeiramente submetido a uma avaliação para a definição do plano de tratamento. “Neste momento é definida a gravidade do caso e qual é o melhor tratamento. Muitos chegam com quadros de intoxicação e precisam ficar em leitos, que não são hospitalares, mas sim psicossocial. Aqui, hoje, realizamos procedimentos para a desintoxicação que antes só eram feitos em hospitais, como o manejo de medicamentos a nível da síndrome de abstinência”, explicou Solange Aparecida Bená, diretora do Caps AD III.

Em casos mais severos em que o paciente necessita de internação, é disponibilizado um leito psicossocial de curta duração. De acordo com Solange, o leito fica disponível por cerca de 15 dias, podendo ser alterado de acordo com o quadro do paciente. “Algumas pessoas precisam de mais dias, então não é uma regra rígida. Cada caso é avaliado semanalmente para sabermos qual foi a evolução. Já tivemos casos, principalmente de gestantes usuárias de crack, que estavam bem comprometidas, inclusive a criança, com baixo peso, sem pré-natal, que chegou a ficar quase um mês aqui até ir para o parto, porque vivia em condição social vulnerável, sem familiares próximos, morado sozinha em local de tráfico de drogas. Sabendo que se retornasse recairia, nós seguramos até o momento do parto para dar uma condição melhor para ela nesse momento e uma qualidade de vida melhor para o bebê”, contou a diretora.

Já nos casos de internação mais rígida, os pacientes são encaminhados para o Instituto Renovar – comunidade terapêutica conveniada com a Secretaria de Saúde, que funciona também de maneira voluntária. No local, são disponibilizadas 15 vagas de período integral. “Alguns casos precisam deixar a cidade tanto porque são ameaçados pelo tráfico ou porque não possuem rede de apoio e necessitam de um afastamento maior do local de uso, temos essa opção para um tratamento de seis meses”, explicou Solange. Nesses casos, o paciente é acompanhado por equipes do Caps, que mantêm visitas periódicas, assim como a comunicação diária com a clínica, para acompanhar a evolução individual. “Antes de encaminhar para o Instituto Renovar a pessoa permanece aqui no leito, porque primeiro temos que desintoxicar, no ponto de vista clínico e psíquico. Então, se a pessoa tem o desejo, encaminhamos para a clínica”, finalizou.

Durante o tratamento os pacientes contam com acesso a nutrição, importante para auxiliar na recuperação e reposição de nutrientes já que, de acordo com Solange, são muito debilitados devido ao uso das drogas, além de acompanhamento psicossocial para o apoio emocional.

O apoio da família na recuperação da dependência

De acordo com a diretora, o apoio da família está ligado diretamente ao tratamento e resposta do paciente, principalmente em relação às mulheres. “Existe uma discrepância no olhar da sociedade entre o homem usuário e a mulher usuária e esse termômetro existe dentro das famílias. Por exemplo, para o homem é muito mais aceito o quadro de uso de substância, a família apoia mais que a mulher. Ela tem menos apoio, mais julgamento crítico da família e da sociedade e sabendo disso o uso dela é mais solitário, então demora para alguém perceber ou para que ela sozinha entenda que não está dando conta e precisa de ajuda”, disse.

O Centro realiza ainda um tratamento feito com a família do paciente a partir do início de sua melhora. “A gente consegue fazer, às vezes, o contato com a família e convidar a conhecer o serviço. Muitas vezes no início a família fica insegura, com receito, mas quando vê o que houve melhora até os laços. Já tivemos casos de pessoas que estavam em situação de rua, ficou internado, desintoxicou, continuou os tratamentos na hospitalidade e no começo a família não apoiava, mas veio, viu que a pessoa apresentou mudanças e voltou para a casa com o acolhimento da família, que é o ideal. Mostrar para a família que existe tratamento e que o apoio e participação aumentam a chance de dar certo é muito melhor do que só o encorajar a vir e buscar ajuda sozinho”, contou ela. 

Estrutura e atividades

O Caps AD III conta com nove leitos psicossociais, sendo dois para adolescentes, três para mulheres e quatro para homens; sala de procedimentos e posto de enfermagens, consultórios, salas para terapias em grupo e salão de convivências.

Os internos são submetidos a uma variedade de atividades através das oficinas de música, vídeo, lian gong, dança sênior, costura, artesanato, pintura, desenho, poesia, ginástica, futebol, xadrez, entre outras.

Acompanhamento pós alta

Após o período de tratamento, o paciente passa a fazer parte do grupo chamado de pré-alta, que antecede o fim definitivo do tratamento. Neste momento, o paciente passa a flexibilizar as idas ao Caps, passando de diariamente para semanalmente ou mensalmente, de acordo com o plano traçado por especialistas, até o momento da alta. “Neste momento existem duas condições de alta. Na primeira, a pessoa vai continuar necessitando do acompanhamento de saúde mental e nesses casos são tratados em rodas de terapia e os atendimentos da unidade que continuam o acompanhamento e a outra, que é a alta para vida, que é a grande maioria da unidade, que não precisam mais de encaminhamento para lugar algum, que deixam o Caps vem, sem medicação, fortalecido e volta a viver a vida”, diz Solange.

Mesmo após a alta, o paciente pode voltar a frequentar a unidade em casos de necessidade, situações difíceis, recaídas ou para participar de grupos de auto ajuda. 

Tratamento também para dependentes alcoólicos

Fabio de Freitas, de 34 anos, deu início ao tratamento no Caps no começo de setembro devido ao uso excessivo de bebida alcoólica. Para ele o atendimento foi essencial para conseguir e se sentir capaz de se desprender do vício. “Eu comecei o uso aos 16 anos, mas até então eu não tinha conhecimento de que estava entregue à bebida, eu falava que bebia socialmente, mas bebia bastante. Depois de 2020 eu tive episódios depressivos e foi quando eu desandei mesmo e com o agravante da pandemia piorou ainda mais”, contou o nutricionista.

Pai de uma menina de três anos, Freitas decidiu procurar ajuda devido a sua filha e os conflitos em casa. Na primeira tentativa, não conseguiu se manter no tratamento devido a pandemia, mas retornou neste ano com o objetivo de largar a bebida. Para ele, os resultados trazidos pelo tratamento e o acompanhamento da equipe médica é visível.  “Eu vejo mudanças no peso, principalmente, eu tenho quadro depressivo e estou fazendo exercícios físicos aqui, eles induzem a seguir uma rotina. Além da relação familiar que está sendo completamente outra. E o tempo aqui me ajudou a melhorar pois aqui nós entramos em uma rotina que não existe em casa, principalmente se você está no vício, você só usa a sua substância, mas aqui não, nós temos uma rotina que acaba sendo levada para casa e ajuda”, contou.

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