Longe de ser brilhante, filme dos Mamonas Assassinas cumpre papel de emocionar guarulhenses no cinema


Por Lucas Canosa, especialmente para o Guarulhos Hoje

Cerca de 75% da sessão estava lotada, excelente estatística para a noite de antevéspera de Ano Novo, dois dias após a estreia de um filme brasileiro, em uma época na qual o cinema já não faz o sucesso de outrora. Mamonas Assassinas contou com a boa vontade dos guarulhenses, conterrâneos dos integrantes, para a aceitação do público com a produção. Não espere algo de Hollywood – até por conta do baixo orçamento – mas, para quem for de mente aberta e sem expectativas técnicas, o longa-metragem vai acertar em cheio o coração.

A história relata os tempos de Utopia, a mudança do nome da banda, os conflitos familiares dos músicos e até mesmo os trabalhos paralelos para a produção do primeiro disco. No entanto, falha no excesso de diálogos exagerados sob o tom de novela mexicana. A escolha por não utilizar palavrões e expressões mais fortes se mostra acertada para a classificação do público, mas ineficaz ao retratar o cotidiano dos artistas, visto que os termos escolhidos para a substituição são quase infantis. Outro problema grave está nos cortes grotescos de cenas, impedindo a construção de relações mais fortes, por exemplo, entre os integrantes e os familiares e, até mesmo, no desfecho da trama. A direção optou também por escantear o tecladista Júlio Rasec e o guitarrista Bento Hinoto em contrapartida à exposição máxima dos irmãos Sérgio e Samuel Reoli, além, obviamente, do próprio Dinho. As mulheres, sempre indireta – ou até diretamente – vilanizadas, também não foram devidamente divulgadas no filme, que não fecha sequer um parêntese entre vários abertos a respeito dos relacionamentos amorosos.

O ponto positivo foi a imensa boa vontade dos atores em fazer acontecer a história. Os meninos, ainda jovens, não viveram a curta trajetória da banda, mas deram vida aos artistas de forma muito digna e natural, destaque para o próprio intérprete do Dinho, Ruy Brissac. Abdicar da exploração da tragédia – já amplamente explorada nos últimos 27 anos – também foi essencial para manter a áurea leve e contente da trama.

Filmado em Guarulhos, o longa fez excelente aposta em apelar para a memória afetiva, sobretudo daqueles que vivem na cidade. Todo guarulhense conhece ou é autor de um relato a respeito dos Mamonas Assassinas, seja por um encontro, uma participação nos comícios ou porque estiveram pessoalmente com os meninos alegres. No final, o objetivo foi atingido, pois muita gente chorou ao se lembrar dos tristes momentos vividos ao recordar o acidente de avião, se emocionou ao relembrar os momentos felizes, ou simplesmente porque ouviram histórias de conhecidos. Mamonas nunca esconderam o amor por Guarulhos, e a cidade retribuiu ao aplaudi-los efusivamente durante os créditos.

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