Corredores de time de Sorocaba fraudam inscrição na São Silvestre


Uma fraude na São Silvestre causou revolta entre corredores que participaram da prova no último dia 31 e pagaram até R$ 170 pela participação na corrida de rua mais tradicional do país.
Ao menos doze pessoas com camisetas da equipe de corrida Run Up de Sorocaba participaram da competição usando um mesmo número de inscrição: 23023. Imagens de diferentes pessoas com a mesma identificação foram postadas em comunidades de corredores amadores no Facebook.
Em algumas imagens, dois homens correm lado a lado com a mesma numeração. Em outras fotos, são mulheres que usam o número 23023. Os competidores com número fraudado também aparecem juntos, confraternizando em frente a um ônibus.
O portador do número 23023 não consta na lista de resultados de 2017. O corredor, porém, já foi identificado pelos organizadores da prova como Valter Pereira da Silva. Ele tem 54 anos e consta na inscrição como membro da equipe Run Up. A organização não identificou os outros corredores que fizeram uso indevido do número de identificação.
Não é a primeira vez que membros da equipe utilizam números de identificação clonados para disputar a São Silvestre. Fotos pesquisadas pela Folha nas edições de 2014, 2015 e 2016 da corrida mostram mais de um corredor da Run Up com o mesmo número no peito.
Em 2016, o número clonado foi o de 6231. Em fotos, é possível ver o nome “Marco” abaixo do número preso na camisa de alguns corredores da equipe. Outras mulheres aparecem nas imagens correndo com a mesma numeração, no entanto, o nome não aparece na identificação. Em 2015, três mulheres diferentes com camisa da Run Up aparecem em imagens com o número 24873. Já em 2014, o número 22466 está impresso na identificação de mais de um corredor da equipe.
A Yescom, responsável pela organização técnica da prova, disse já ter conhecimento do caso de 2017 e está tentando identificar todos os fraudadores para tomar medidas legais. A empresa informou ainda que banirá a assessoria de corrida Run Up de todos os seus eventos no país, assim como todas as pessoas que correram de maneira fraudulenta.
Proprietária e realizadora da prova, a Fundação Cásper Líbero ainda estuda quais medidas irá tomar.

CONTROLE VISUAL
A Yescom afirmou que a identificação dos inscritos na largada da São Silvestre é feita de forma visual, sem a conferência de documentos. Também não há nenhum tipo de controle por código de barras ou outro meio digital, como é feito em jogos de futebol ou shows. Segundo os organizadores, esse tipo de controle demandaria muito tempo da organização. A verificação de documento só é feita no momento da entrega dos kits aos competidores. Em 2017, foram 30 mil pessoas inscritas.
Com esse sistema, burlar a vistoria não é tarefa das mais complicada, uma vez que diversas pessoas com um mesmo número podem entrar na área de largada em diferentes momentos.
A organização afirmou ainda à reportagem que é comum pessoas usarem idosos como laranjas para terem desconto na inscrição, que corresponde a 50% do valor original. Já houve também casos de idosos que se inscreveram e venderam seus números a um preço superior.
Os “pipocas” (participantes sem inscrição) têm sido um tormento para a São Silvestre. Em 2016, cerca de 15 mil pessoas participaram da prova de maneira irregular, o que resultou em falta de água para os inscritos. Em 2017, segundo estimativa prévia dos organizadores, os penetras variaram entre 3.000 e 4.500.
“Apesar da significativa queda e do sucesso na entrega de kits e posicionamento do público na largada e chegada, algumas atitudes negativas ainda aconteceram, ressaltando a falta de cidadania e de respeito por parte dos fraudadores. Houve atletas que passaram seu número para não inscritos e que foram identificados pelas câmeras ao longo do percurso, pelo sistema de vídeo da chegada e câmeras colocadas nos postos de água. Este tipo de fraude resultará na desclassificação e no banimento destes fraudadores no cadastro na São Silvestre e dos demais eventos da organização técnica”, disse a organização por meio de comunicado oficial.
“Houve também quem se inscreveu como idoso para desfrutar do desconto sem ter esse direito. Estes serão reconhecidos e notificados. Como essa avaliação ainda é manual, mesmo que o resultado seja publicado, ao longos dos próximos dois meses assim que for confirmada a fraude eles serão excluídos e banidos do cadastro da São Silvestre e de outras provas da organização técnica”, informou outro trecho da nota.

OUTRO LADO
Em comunicado publicado em sua página no Facebook, a Run Up confirmou o envolvimento de clientes seus na fraude, mas afirmou que “repudia veementemente qualquer prática antiética e antiesportiva”.
“Em relação ao ocorrido no último dia 31 de dezembro, segundo informações publicadas na internet, quando atletas correram com números de inscrição copiados, a Assessoria Esportiva Run Up esclarece, por meio deste manifesto, que repudia veementemente qualquer prática antiética e antiesportiva, pois não compactua com nenhuma conduta que desrespeite o direito absoluto à integridade ética e moral, que são os pilares principais da nossa existência. Já estamos tomando as devidas providências quanto aos envolvidos no fato e também estamos em contato com os organizadores do evento em questão para retratação e reparação”, diz o texto.
Gisele Silveira Bruni e Henrique Oswaldo Aparicio Junior, advogados da Run Up, reafirmaram que a assessoria irá reparar os danos e informou que a ação de copiar os números foi tomada deliberadamente pelos alunos.
“Ainda não conseguimos contato com todos os envolvidos, mas a Run Up deixa claro que a Corrida de São Silvestre não faz parte do seu calendário de eventos, de modo que cada corredor agiu de forma autônoma, apenas se utilizando do uniforme da Run Up por pertencerem a esta assessoria”, afirmaram os advogados.
Eles confirmaram também que Valter Pereira da Silva é aluno da Run Up, mas que ele ainda não foi localizado para dar a sua versão. A Folha também não conseguiu localizar o corredor.
Os advogados disseram ainda que a Run Up se considera vítima de “haters” na internet, já que “a privacidade e a intimidade de seus alunos foram violadas, ainda que estes tivessem cometido prática temerária, jamais poderiam ter suas fotos divulgadas sem a devida autorização”.
Eles culparam a organização da prova pela falha de fiscalização. “Sem a intenção de procurar culpados ou iniciar uma ‘caça as bruxas’, é importante pontuar que: houve falta de fiscalização por parte dos organizadores da prova”, afirmaram.
Os representantes da Run Up afirmaram ainda que se reunirão na segunda-feira (8) com a direção da empresa e estudarão os próximos passos a serem dados.

(Folhapress)
Foto: Eduardo Alpendre/Fotoarena/Folhapress

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