Número de suicídios de policiais civis aumenta 150% nos últimos quatro anos, aponta Sindpesp

Suicídios de Policiais Civis
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Reportagem: Ulisses Carvalho
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O número de suicídios de policiais civis aumentou 150% entre os anos de 2014 a 2018, de acordo com dados do Sindicato dos Delegados de Polícia do estado de São Paulo (Sindpesp). Enquanto em 2014 foram registrados quatro casos,  no ano passado, o número chegou a dez mortes, e durante esse período, 33 policiais tiraram a própria vida, de acordo com o sindicato.

O sindicato obteve os dados da Academia de Polícia Civil de São Paulo, durante uma palestra de prevenção ao suicídio, realizada pelo delegado Roberto Santos da Silva. As mortes através do suicídio tem uma incidência maior entre os investigadores de polícia, com 12 casos, seguido pelos carcereiros, com cinco mortes, além de escrivães, com quatro casos.

Segundo o sindicato, a nomenclatura dada ao cargo de carcereiro foi extinta em 2013, e transformada em agente policial. O Sindpesp também destacou que no estado de São Paulo, o suicídio mata mais o policial civil do que em confrontos contra criminosos. Outra reclamação afirmada pelo sindicato é o número de afastamentos por doenças psiquiátricas, incluindo a depressão.

O HOJE questionou a presidente do Sindpesp, Raquel Kobashi Gallinati,  sobre o número de psicólogos que existem para atender a demanda de policiais civis do estado, porém, Raquel informou que a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo (SSP), poderia responder a pergunta, mas em nota enviada a reportagem, a SSP não informou o número.

 “O policial está mais suscetível à depressão e suicídio”, diz Raquel

Sobre a questão do tratamento psicológico adequado, Raquel informou a reportagem que o programa ainda é tímido, já que não haveria uma linha de atendimento exclusiva para lidar com as questões que envolvem o trabalho policial. “Pela característica da profissão, que lida, na maior parte do tempo, com o pior lado do ser humano, o policial está mais suscetível à depressão e suicídio. Então nada mais justo que oferecer um atendimento 24h por dia para ajudar os colegas que estão enfrentando uma depressão. Não há, também, campanhas informativas voltadas para esse público. E, é claro, o ideal seria que o profissional contasse com psicólogos perto dos locais onde trabalham”, destacou.

Dados do mês passado, segundo o sindicato, apontam que atualmente tem 27.706 policiais civis trabalhando no estado, quando o previsto em lei é 41.192. A presidente do Sindpesp aponta também para esse déficit de 34% no efetivo, que vem causando uma série de problemas na polícia.

Segundo Raquel, o sindicato recebe com muita frequência relatos de policiais que estão sofrendo com depressão, síndrome de burnout e outros males associados ao estresse. “Durante quatro meses visitei todas as 10 regiões administrativas da Polícia Civil no estado e em todas elas colhemos relatos de policiais que estão afastados por doenças psiquiátricas. Nossa polícia trabalha diariamente sob forte pressão e com responsabilidades crescentes. Os dados da Academia de Polícia Civil, que mostram que o número de suicídios mais que dobrou, comprovam essa percepção diária”, revelou.

SSP diz que todos os policiais paulistas são atendidos pelo Hospital do Servidor Público Estadual

Em nota, a SSP afirmou que a Polícia Civil possui a Divisão de Prevenção e Apoio Assistencial, no Departamento de Administração e Planejamento (DAP), no qual psicólogos e assistentes sociais ficam disponíveis para atender os policiais. Já os casos de problemas psiquiátricos ou psicológicos são encaminhados ao Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME), para avaliação.

“Todos os policiais paulistas são atendidos pelo Hospital do Servidor Público Estadual e pela rede conveniada do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE), disponível em todo o estado”, informou a secretaria.

Sobre os motivos que podem levar o policial civil ao suicídio, Raquel destacou a pressão e as características inerentes à profissão, que lida diariamente com a violência e crimes, além da falta de condições de trabalho. “O policial civil hoje, em São Paulo, trabalha por amor, porque temos um dos piores salários do Brasil e a sobrecarga e acúmulo de funções é uma realidade. Além disso, muitos de nós arriscamos diariamente suas vidas sem as mínimas condições de segurança”, alegou.

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