‘Estamos enterrando mais de 75 por dia’, diz coveiro de cemitério de SP que recebe vítimas de Covid-19

Sepultadores da Prefeitura de SP enterram primeira pessoa do dia, às 8h15 desta segunda-feira (11) — Foto: Sindicato dos Funcionários Públicos Municipais/Divulgação

Eles não gostam de serem chamados de coveiros, mas, sim, de sepultadores. São os profissionais contratados pela Prefeitura de São Paulo, servidores que enterram os mortos nos cemitérios públicos municipais. Apesar de terem ingressado no cargo por concurso público, eles se sentem desvalorizados pela profissão que escolheram, em especial, em tempos de pandemia de coronavírus, que já deixou mais de 3,7 mortos no estado e 11 mil no país.

Na capital paulista, um dos cemitérios municipais que mais recebe vítimas de Covid-19 é o da Vila Formosa, na Zona Leste da capital, o maior cemitério da América Latina. No terreno foram abertas 8 mil valas e foi designado, pela Prefeitura da capital, como o “centro de logística para os mortos por coronavírus”.

O local ficou conhecido internacionalmente após estampar a capa do jornal norte-americano “Washington Post” com uma imagem aérea que mostrava uma imensidão de covas abertas e, em 30 dias depois, todas ocupadas e fechadas.

Só em abril deste ano, o número de enterros subiu 18% na cidade de São Paulo, em comparação com o mesmo período de 2019: foram enterrados no mês 6.171 pessoas, segundo o Serviço Funerário, da Prefeitura. Só no Vila Formosa enterradas 1.654 pessoas em abril.

A reportagem do G1 conversou com alguns dos 30 sepultadores da unidade, que pediram para não ser identificados. Segundo eles, apesar de tomarem todos os cuidados para evitarem a contaminação pelo vírus, o medo está presente no trabalho no dia a dia.

Para ser sepultador municipal, é necessário prestar concurso público, sendo necessário ter, ao mínimo, ensino fundamental. A prova tem 50 questões, incluindo matemática, português e conhecimentos gerais, como história e geografia. João disse ter escolhido a profissão quando, desempregado e jovem, iria se casar e buscava estabilidade financeira, já que, como concursado, não pode ser demitido.

O salário inicial da carreira varia de R$ 775 a R$ 1.100, podendo chegar até R$ 1.500. João Batista, diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindesp), reclama, porém, que a Prefeitura realizou um contrato emergencial para contratar uma empresa com mais 200 sepultadores durante a pandemia, devido à falta de funcionários, e pagando R$ 1.700 para os terceirizados, mais do que os próprios servidores recebem.

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