SP prevê lotação de UTIs em maio e polícia já atua para fechar comércio

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O governo de São Paulo estima que as unidades de terapia intensiva (UTIs) do Estado para pacientes de covid-19 estarão lotadas até maio com o avanço da pandemia. Já os leitos emergenciais, instalados para evitar o colapso do sistema, devem ficar cheios até julho, diz a gestão João Doria (PSDB). Diante da pressão crescente nos hospitais, a Polícia Militar, em parceria com a Vigilância Sanitária, começou a atuar no fechamento de estabelecimentos comerciais que desrespeitem a quarentena. Os agentes também estão orientados a circular pelos bairros pedindo à população para ficar em casa.

Cerca de 50% de todos os leitos de UTI do Estado já são ocupados por pacientes de covid. “Temos de entender que, se mantivermos esse grau de isolamento social (o índice de paulistas em casa tem ficado em cerca de 50%, quando a meta é 70%) podemos inferir que provavelmente teremos lotação dos leitos de UTI a partir de maio e, após os leitos que ainda temos para colocar, seria para julho”, disse o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann.

O Estado tem 3,5 mil leitos de UTI na rede pública, somando vagas em unidades estaduais, municipais e filantrópicas. Até esta quarta-feira, havia 2.508 internados com sintomas de covid – 1.132 com diagnóstico confirmado. Até junho, o sistema deve receber 1.524 novos leitos especializados. A rede fez adaptações para atender à demanda, como o Hospital das Clínicas (HC), que liberou 900 leitos – 200 de UTI – para pacientes de covid.

Um dos casos mais graves é o do Instituto Emílio Ribas, onde todos os 30 leitos de UTI estavam ocupados ontem. “Temos um sistema de regulação que permite ocupar o leito no momento em que é desocupado. O planejamento é chegar a 50 leitos nas próximas semanas, com equipamentos e recursos humanos suficientes”, disse Luiz Carlos Pereira Junior, diretor da unidade de referência. No HC, que fica ao lado, a taxa é de 83%, a mesma do Sancta Maggiore Higienópolis, particular.

Longe do centro, o quadro é semelhante. O Hospital Geral de Pedreira, entre a zona sul e Diadema, tem 87% dos leitos ocupados. No Hospital da Vila Nova Cachoeirinha, zona norte, a taxa é de 86%. No Hospital Municipal do Tatuapé, zona leste, o índice é de 77% e funcionários relatam falta de espaço e estrutura (leia mais nesta pág.).

“Não é só o leito de UTI. É o que compõe o atendimento ao doente grave, que pode começar na enfermaria e pode terminar até após a UTI”, afirmou o infectologista David Uip, chefe do centro de contingência contra o coronavírus do Estado. Ele alerta também para as dificuldades de ter profissionais e equipamentos suficientes.

PM nas ruas

Doria disse que o Estado só deve divulgar eventual aumento nas restrições à circulação de pessoas a partir do dia 22, quando vence a quarentena. Mas as ações para conter o funcionamento irregular do comércio e aglomerações já ganham força.

Anteontem, no 1.º dia de operação da PM com a Vigilância, foram visitados 14 estabelecimentos denunciados em Santana, zona norte, por desrespeitarem a quarentena. Quatro estavam abertos e foram fechados. Na Lapa, zona oeste, 15 locais denunciados foram vistoriados – três fechados. Ontem, houve ação no Largo 13, em Santo Amaro, zona sul, e no Tatuapé. Lojas de chocolate e de lingerie estavam entre os alvos.

“A tendência é aumentar (o número de operações diárias), porque recebemos quantidade muito grande de reclamações pelo (telefone) 190”, disse o tenente-coronel Emerson Massera, porta-voz da PM. Nos últimos dez dias, cerca de 16 mil denúncias foram recebidas

Esse tipo de ação deve se expandir para outras regiões. Segundo Cristina Megid, diretora do Centro de Vigilância Sanitária Estadual, agentes das maiores cidades do interior estão recebendo equipamentos, como máscaras, para ir a campo.

A PM afirma que a ideia agora não é prender, mas conscientizar. Mas há relatos de atuações mais incisivas. Emelly Thays Gimenez, de 22 anos, foi abordada ontem por dois PMs quando ia para o trabalho em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo. Ela foi contratada para ajudar na área administrativa de uma clínica de vacinação. “Tentei explicar, mas disseram que poderia fazer home office. Falei que era nova na função e não dava para desobedecer Disseram que a partir de agora, dependendo da situação, podem dar ordem de prisão.”

Há ainda patrulhas em áreas de aglomerações, como praças. “Percorremos os bairros, especialmente os residenciais, com viaturas anunciando em alto-falante medidas de segurança, pedindo para as pessoas ficarem em casa”, disse Massera.

‘Começar a rezar’

“Se os pacientes continuarem a chegar nesse ritmo, a gente vai começar apenas a rezar.” Essa é a declaração de uma enfermeira do Hospital Municipal do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. A principal Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital está lotada. Ali, são 32 leitos, 10 dedicados aos pacientes de covid-19 e outros 22 para demais ocorrências.

Se um novo paciente grave chegar, os profissionais de saúde podem instalá-lo na unidade semi-intensiva. São mais sete acomodações, com respiradores e monitores. O problema é a falta de espaço. Pacientes e funcionários ficam muito próximos, quase uns sobre os outros. Uma terceira opção seria a sala de observação, espaço adaptado para ser uma semi. O problema ali é outro: não há respiradores para todo mundo.

Os pacientes são recebidos pelos hospitais, mas os locais de atendimento começam a ser improvisados. A vendedora Aline Oliveira teve de levar o marido, de 43 anos, ao Tatuapé, por falta de ar. “A enfermeira foi com ele para a porta da UTI e o médico fala ‘aqui não dá’. Foi a mesma coisa no semi-intensivo. Aí mandaram ele aguardar um pouco. Minutos depois, surgiu uma vaga e ele entrou. Mas está lotado”, diz Aline. O Hospital do Tatuapé tem 77% de uso da capacidade de leitos de terapia intensiva para a covid-19.

O hospital municipal Alípio Corrêa Neto, que oferece 270 leitos para os moradores de Ermelino Matarazzo e Ponte Rasa, na zona leste, atende cerca de 16 mil pessoas por mês. Com a lotação dos 16 leitos de UTI com covid-19, os espaços que eram do pronto-socorro infantil e também a observação masculina foram destinados para casos de coronavírus. Os funcionários não sabem precisar o número de novas vagas.

“Estamos no momento que precede, em algumas semanas, o crescimento de casos que aconteceu na Europa e nos Estados Unidos. A concentração dos casos no Hospital das Clínicas é importante, mas não é suficiente. Os hospitais de campanha limitam casos graves. O problema maior é que temos de dar uma resposta para este momento, mas também para a perda de profissionais dos últimos anos”, explica Gerson Oliveira, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo. “Não bastam equipamentos. É preciso saber trabalhar”, completa.

Os problemas ocasionados pelos altos índices de ocupação são relatados pelos profissionais de saúde às entidades de classe. O Sindicato dos Médicos do Estado de São Paulo (Simesp) registra 168 denúncias sobre problemas no ambiente de trabalho. Desse total, 32 foram de “fluxo inadequado de atendimento”. Outras oito foram por “saturação no sistema de saúde”. A maioria ainda é por falta de equipamento de proteção individual (91).

A Secretaria Municipal de Saúde informa que está empenhada na ampliação da rede de saúde, buscando novas formas de prestar o melhor atendimento. Em relação à demanda por respiradores, a intenção do poder municipal é dobrar o número de equipamentos nas próximas semanas.

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