Metroviários suspendem greve em SP; paralisação causa aglomerações

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A suspensão da greve dos metroviários, em assembleia extraordinária virtual realizada no início da madrugada desta terça-feira, 28, provocou atrasos, aglomerações e desinformação em grande parcela da população nas primeiras horas da manhã. Parte das estações do metrô de São Paulo não reabriu às 4h40 porque muitos funcionários do plantão noturno não foram trabalhar às 23 horas da segunda-feira. Por volta das 7h30, o Metrô informou que todas as estações estavam operando normalmente. De acordo com a Prefeitura, o rodízio de veículos ficará suspenso na capital durante todo o dia.

As operações foram retomadas gradativamente. De acordo com o site do Metrô, as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha permaneciam paralisadas às 6h30. Neste horário, o sistema de som informava que a linha 1 funcionava apenas entre as estações Ana Rosa e Luz Já a linha 3, vermelha, que concentra passageiros da zona leste, operava de Itaquera até Santa Cecília. A CPTM segue funcionando normalmente. Em nota, a ViaMobilidade, que administra as linhas 4-Amarela e 5-Lilás, diz que a operação é normal.

A estação Sé, ponto de interligação de várias linhas da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) e a mais movimentada da capital, só foi reaberta às 6h30, quase duas horas depois do previsto. Na estação Tatuapé, muitos passageiros encontraram as portas fechadas.

A chegada constante de passageiros causou aglomeração na entrada principal, localizada na praça da Sé. Grande concentração de pessoas é situação a ser evitada de acordo com a opinião de especialistas em meio à pandemia da covid-19. Na estação Tatuapé, do lado de fora, passageiros se aglomeraram em ônibus, na tentativa de chegar ao trabalho. O distanciamento social é uma das medidas indicadas para evitar a disseminação do novo coronavírus.

A aglomeração se repetiu dentro das vagões. Os primeiros trens que partiram logo após a reabertura das estações partiram cheios e com intervalos maiores que o normal. Na estação Tucuruvi, o tempo de espera chegou a sete minutos nas primeiras horas da manhã. “Ninguém tem condições de respeitar o distanciamento. Todo está mundo está bem perto do outro”, reclamou a auxiliar administrativa Silene Santos.

A demora de quase duas horas na abertura dos portões atrasou a agenda dos passageiros. Boa parte perdeu o horário de seus compromissos. O operário da construção civil Juscelino Santos, de 23 anos, chegou à Sé por volta das 5h, pois deveria chegar ao trabalho na rua da Consolação às 6h. Teve de avisar que atrasaria. “É muito difícil ficar sem saber o que vai acontecer”, reclamou.

A situação do segurança Claudinei Pereira, de 34 anos, era ainda mais delicada. Ele deveria chegar a Santos, no litoral paulista, às 7h, para um trabalho eventual. Acordou às 3h, saiu de sua casa, na zona norte, e tentou pegar o início da operação do metrô, às 4h40. Não conseguiu. “Estou mandando vídeos e fotos da estação fechada para tentar justificar o atraso, mas não sei a que horas vou chegar”, disse.

O anúncio da greve do metrô fez com que muita gente procurasse alternativas de transporte para chegar ao trabalho. Inúmeras linhas da zona leste, que circulam principalmente pela avenida Alcântara Machado, apresentaram lotação maior que a habitual. Também houve lotação no terminal Jabaquara, na zona sul.

Quem decidiu tirar o carro da garagem encontrou trânsito acima da média. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o pico de congestionamento foi de 42 km às 9h. Esta é a maior marca para uma terça-feira no mês de julho (o recorde anterior era de 28 km/h neste dia da semana) e muito superior a média diária de 20 km/h ao longo do mês.

Por volta das 8h, a situação já havia se normalizado em grande parte das estações, apenas com paralisações pontuais. Na Barra Funda, uma das últimas a retomar as operações na linha vermelha, não havia aglomerações no embarque. O mesmo cenário se repetiu nas estações da avenida Paulista, como a Paulista, da linha 4-amarela, e Consolação, da linha 2-verde.

Aglomerações

Em entrevista à rádio Eldorado, o secretário estadual de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, disse que a principal preocupação na manhã desta terça-feira foi evitar aglomerações nas estações. “Temos uma crise de saúde pública, a mais grave da nossa geração, e sem dúvida nenhuma toda a ocorrência do início desta terça feira gerou aglomeração”, afirmou. “Acatando o que era exigido para voltar a trabalhar, nós esperavámos que houvesse responsabilidade dos funcionários do metrô e que todos os trabalhadores estaria a postos para trabalhar às 4h40, como era esperado, porque acreditamos na palavra daqueles que exercem suas funções.”

Os representantes dos metroviários rebateram as declarações de Baldy. “Na verdade, a gente que não imaginava que a Secretaria de Transporte do Estado chegaria a esse ponto. Eles poderiam ter evitado isso desde o início”, afirma Alex Santana, diretor da Federação Nacional dos Metroferroviários (Fetranspor). Ele alega que houve tentativas de negociação com o governo por três meses, mas a empresa havia recusado todas as propostas feitas pelo Tribunal de Justiça, pelo Ministério Público e pelo próprio sindicato. “Nós adiamos a greve várias vezes para evitar esse transtorno.”

De acordo com Alex, o ponto de ruptura para que a greve seguisse em frente teria sido o anúncio de redução dos salários feito na última sexta-feira, 24, além dos descontos e retiradas de direitos do acordo coletivo que já teriam sido efetivado. “Não houve outra alternativa senão manter a data da greve, que foi aprovada e iniciada. Quase meia-noite, o secretário entrou em contato para dizer que aceitaria a proposta do Ministério Público do Trabalho, que já havia sido aceita pela categoria. Eles poderiam ter evitado essa greve tendo aprovado de manhã a proposta, quando ela foi feita.”

Suspensão da paralisação

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo decidiu suspender a greve, que começou à meia-noite e deveria durar 24 horas. Em assembleia virtual realizada no início da madrugada, quase 80% da categoria optou pela suspensão da paralisação. De acordo a entidade, o governo do estado apresentou uma nova proposta no final da noite de segunda, 27.

A votação da assembleia foi convocada após o secretário de Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, comunicar ao sindicato na noite da segunda, 27, que o governo renovará o acordo coletivo vencido em 30 de abril e vai acatar a proposta do Ministério Público do Trabalho sobre a manutenção do adicional noturno de 50%, (com pagamento de 25% pelo período de seis meses e a diferença sendo paga integralmente nos seis meses subsequentes) e do adicional de horas extras de 100% (com pagamento de 50% por seis meses e a diferença também paga integralmente nos seis meses seguintes).

De acordo com Baldy, o Metrô e o Sindicato do Metroviários têm negociado há cerca de dois meses e meio. “Jamais imaginávamos que o sindicato poderia colocar uma situação de greve em meio à realidade que estamos vivendo, da pandemia do coronavírus. Realmente, colocou a população toda em risco”, afirmou. O secretário disse ainda que cedeu em todos os pontos pedidos pelo sindicato com o objetivo de evitar uma paralisação do metrô em meio à pandemia.

Os trabalhadores vinham planejando uma paralisação desde 1.º de julho como forma de protestar contra diminuição e corte de “vários direitos dos metroviários nos salários de junho”. Na tarde desta segunda, a Justiça determinou que o Metrô deveria manter o funcionamento de 95% dos serviços no horário de pico (das 6h às 9h e das 16h30 às 19h30) e 65% nos demais horários nesta terça-feira. “Os porcentuais estabelecidos dizem respeito à prestação do serviço e não à mão de obra devidamente colocada para tanto”, disse o órgão. A Justiça estabeleceu multa diária de R$ 150 mil e R$ 500 mil, respectivamente, em caso de desrespeito à liminar.

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